quarta-feira, 22 de agosto de 2012

ALVÍSSARAS



Elgien
Sr. Marquart, muitos afirmam que somos o que pensamos, mas, como um estudante da escola da vida, pus-me a observar-me diante dela. Algo assim como tentar ser objetivo em relação aos fenômenos externos e aos estados interiores provocados pelo ruído externo. A lição é Socrática, pois supomos ser dele a máxima: “Conhece a ti mesmo”. Pensava eu, enquanto acreditava na autoridade dos estudantes externos, que eu me conhecia o suficiente para dar atenção somente ao exterior. Partia do pressuposto de que todos têm consciência de si mesmo. Mas, porém, todavia, no entanto, no entretanto, não é assim. O estudo de psicologia revelou-me um princípio que assim afirma: ” Os eventos exteriores estabelecem os nossos estados interiores”. Chocante, não! Se assim é, e não tenho mais dúvida sobre isso, somos seres reativos às circunstâncias. Cada evento nos cria interiormente uma resposta compatível, associada, correspondente a ele, o que nos leva a um susto.
Somos seres mecânicos, automatizados por algum princípio que nos obriga a atuar, a pensar e a se emocionar à nossa revelia. Essa mesma psicologia que estudo mostra-me que sou dominado pelo que ela chama de personalidade. Persona era um tipo de máscara usada nos teatros antigos e que tinha a finalidade de impedir que se identificasse o personagem com o ator. Personalidade, portanto, dentro dessa concepção é a máscara que adotamos desde os primeiros anos de vida ao assumirmos a cultura do meio, a tradição, o costume, os valores, etc. E isso começa na vida intra-uterina. Assim, personalidade é tudo aquilo que nos vem de fora e é fundamental para que consigamos sobreviver a um meio entre hostil e ameno. Para muitos, dependendo do meio, totalmente hostil. Por que é assim? Platão ensinava que deveríamos procurar o que é universal e atemporal evitando o que é particular e circunstancial. Tudo a ver, pois o que expressamos é o particular que julgamos modestamente ser o universal e consideramos o circunstancial como o absoluto temporal. Nem é preciso ser muito inteligente para compreendermos esse fato. Todos tentam a todo momento comandar e controlar a tudo e a todos, uma espécie de divindade única colocada entre os ignorantes para ensiná-los. O problema está em que todos se acham o espelho divino e, conseqüentemente, está, definitivamente, instalada a confusão humana. Línguas, gostos, ideologias, filosofias, religiões, preferências, referenciais, tradições, costumes, hábitos, etc., etc., todos diferentes, mas cada um querendo convencer ao outro de que é  portador da verdade. Essa é a nossa história. Em qual deus se acredita? No Criador ou nos deuses criados pela mente humana? Somos eternos ou apenas testemunha de uma única existência? Somos poeira cósmica ou somos tão somente experiências da natureza? Millôr afirmava que somos a experiência que não deu certo. Fica para o gosto de cada um, ou  não?

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