quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Egito sufoca indústria dos túneis clandestinos para Gaza


Atualizado em  21 de agosto, 2012 - 14:00 (Brasília) 17:00 GMT
Uma das respostas do governo egípcio ao assassinato de 16 policiais do país na península do Sinai no dia 5 de agosto foi reprimir a indústria de túneis que servem de acesso clandestino à Faixa de Gaza.
Não está claro se algum túnel chegou a ser destruído, mas a atmosfera na outrora vibrante Rafah, na fronteira entre os dois territórios, está indiscutivelmente mais tranquila, sonolenta até.

Acredita-se que existam mais de mil deles ao longo da fronteira, a maioria coberta por tendas brancas."Não teve trabalho nas últimas duas últimas semanas. Sou pobre, não tenho dinheiro", diz o palestino Sagah, no sul de Gaza, um dos milhares que ganham seu sustento transportando mercadorias pelos túneis.
Tanto o Egito como Israel responsabilizam militantes pelas mortes de cinco de agosto e sugerem que eles possam ter usado os túneis para chegar de Gaza ao Egito.
Mas o quanto depende a Faixa de Gaza da indústria de túneis?
A economia do território palestino conta com eles desde que Egito e Israel endureceram o bloqueio contra Gaza em 2007, por conta da eleição do Hamas.
Mapa de Israel
O bloqueio israelense foi aliviado em 2010
Há três anos, lojas e mercados de Gaza estavam repletos de mercadorias contrabandeadas do Egito, de comida a eletrodomésticos, TVs de tela plana a combustível.
Mas a indústria mudou nos últimos anos. Em 2010, após a morte de nove ativistas pró-palestinos a bordo de um navio turco que tentava furar o bloqueio, e em resposta a pressão internacional que se seguiu, Israel aliviou o bloqueio a Gaza
Hoje, quase todos os produtos de supermercados de Gaza são israelenses. Mesmo com o longevo conflito, palestinos de Gaza quase sempre dizem preferir produtos israelenses aos egípcios, por causa de sua qualidade superior.

Economia

Mesmo assim, a indústria de túneis sobreviveu, adaptando-se.
"O volume movimentado é de US$ 700 milhões por ano", diz Omar Shabban, economista baseado no centro de pesquisas Palthink, em Gaza.
Ele calcula que mais de 10 mil pessoas trabalhem nos túneis e diz que a indústria criou milionários, alguns próximos do Hamas.
"Há mais de 1,2 mil túneis que contrabandeiam carros, mais de meio milhão de litros de combustíveis diariamente e mais de 300 mil pacotes de cigarros. O setor da construção de Gaza depende 100% dos túneis", afirma ele.
Pessoas sem documentos também usam os túneis. Israel diz que eles são ainda usados para o envio de armas para Gaza.
Enquanto Israel segue controlando rigorosamente a entrada de materiais de construção no território palestino, afirmando que eles podem ser usados militarmente, o Hamas usa os túneis para conseguir cimento e outros produtos.
Empresários do setor dizem que o movimento aumentou após a queda do presidente egípcio Hosni Mubarak em 2011, proporcionando o boom na construção pelo qual passa Gaza.
Túnel em Gaza
Há mais de mil túneis entre Gaza e a região egípcia do Sinai
Há algo sendo erguido em praticamente toda esquina da cidade de Gaza, como estradas, hospitais, escolas, edifícios comerciais e residências, dando um respiro para sua cambaleante economia.

Interesses

A maioria dos trabalhadores da construção em Gaza diria que faz mais sentido abrir a fronteira com o Egito ao comércio legal. Muitos esperam um acordo entre a Irmandade Muçulmana e o Hamas neste sentido.
Mas há motivos para isto não acontecer, ao menos a curto prazo.
"Se o Egito transformasse Rafah em um fronteira comercial, Israel terminaria imediatamente seu relacionamento com a Faixa de Gaza, tornando-a um problema do Egito", diz Mokhaimer Abu Sada, professor de política da universidade Al Azhar, de Gaza.
"Isto é uma armadilha israelense para o Egito e os palestinos", completa.
É por isto que muitos em Gaza acreditam que o Egito não cumprirá as ameaças de fechar os túneis em definitivo e que ela será reaquecida em breve.
"O Egito não fará isto e o Hamas não aceitaria", diz o economista Shabban.
"Gaza não pode viver sem os túneis. Em uma semanas ou dez dias os negócios vão voltar ao normal."
Com informações de Jon Donnison da BBC News

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