terça-feira, 28 de agosto de 2012

Não contem com o dinheiro do governo



Sebastião Nery
Jarí Calixto, gauchão forte, vermelho e desabusado, primo de Leonel Brizola governador, era prefeito de Nonoai, fronteira de Santa Catarina. Em 60, fundou na região o Movimento dos Sem Terra (pai do bravo MST do João Pedro Stedile, criado 22 anos depois, em 1982).
Quando os ministros militares, na renúncia de Jânio, em agosto de 61, tentaram impedir a posse do vice João Goulart, Calixto reuniu 4.600 homens e marcharam para Porto Alegre, para ajudar Brizola e resistir. Na primeira fazenda, a tropa com fome, Calixto mandou chamar o dono:
- Preciso de carne para meus homens.
- Pois não, prefeito. Dou umas três vacas.
- O senhor está pensando que eu estou pedindo carne para arroz de carreteiro? Estou querendo é carne de elite. Manda matar dez bois.
Na entrada de Passo Fundo, parou a marcha, reuniu todo mundo:
- Vou dar uma chance de vocês roubarem um pouco. Quem quiser roubar, dê um passo à frente.
Palmas. E uma centena deu um passo à frente.
- Já vi. Eu só queria saber quem eram os ladrões. Quem deu um passo à frente, fora da tropa, que ladrão não luta pela Pátria!
Antes de chegarem a Porto Alegre, voltaram. Jango já tinha assumido.
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SONHO ANTIGO
Ageu Azevedo, ecologista, presidente da Codema (Companhia de Desenvolvimento e Meio Ambiente) de Belo Oriente, em Minas, tinha um sonho antigo: comprar um caminhão. Uma noite, recebeu uma proposta irrecusável para ficar com um caminhão, usado, mas barato e ainda inteiro.
De manhã cedinho, foi à casa do primo Américo Gonçalves, professor generoso, já em idade avançada, que tomava seu café e o ouviu com paciência:
- Primo, o senhor não sabe o que me aconteceu. Ontem, já tarde da noite, surgiu a chance de realizar meu grande sonho, que é comprar um caminhão. E, melhor ainda, primo, pela metade do preço. Uma pechincha.
Impassível, o professor continuou tomando seu café e prestando atenção:
- Então é isso, primo. Proposta igual nem na próxima encarnação. Eu queria saber, diante dessa situação tão especial, se posso contar com o senhor.
Mineiramente, o professor Américo bebeu sua xícara de café até o fim, olhou de banda o jovem primo e sorriu:
- Uai, primo. Comigo você pode contar sempre. Mas, com o meu dinheiro, você não precisa contar não.
Como o primo Ageu e o professor Américo, o país pode contar sempre com as promessas do governo, mas, com o dinheiro dele, não precisa contar não, porque os banqueiros não vão deixar.

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