segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mobília, Conflito e Mediação, por Elton Simões


GERAL


Infelizmente, não dava para culpar o trânsito ou o clima. As ruas organizadas, o tempo bom de fim de verão e o céu azul desautorizavam o trânsito e a meteorologia como desculpas para o atraso no meu primeiro dia na Universidade de Victoria.
Na classe, fui recebido pela professora com um sorriso. Ela coordenava um grupo de pessoas que rearranjavam a mobília da sala, dando instruções detalhada sobre onde cada peça de mobiliário deveria estar. Terminada a atividade, explicou que arrumar a mobília e decidir os detalhes do cardápio são duas das mais importantes atividades do mediador de conflitos.
Eliminar qualquer barreira ao contato físico, maximizar as oportunidades de comunicação entre as partes são duas ferramentas importantes na mediação. Comunicação e contato físico humanizam e melhoram a empatia entre as partes de um conflito. Por isso, a maneira como a mobília é distribuída, combinada e os detalhes de como as refeições são compartilhadas se tornam cruciais para o sucesso de uma mediação.
De fato, a existência do conflito não é por si só, negativa. Conflito é parte da convivência social e, consequentemente, inevitável. Eles oferecem a oportunidade de comparar diferentes abordagens para um mesmo conjunto de fatos ou realidades.
Servem de catalisadores para inovações, mudanças, crescimento e progresso. Os conflitos são, em geral, positivos. É o gerenciamento dos conflitos que pode resultar em violência, desperdício de esforços ou impasses.
Os sintomas de que as partes estão presas em um conflito improdutivo são claros. Em primeiro lugar, elas se dissociam, ou seja, interrompem qualquer tipo de contato com a outra parte e, ao mesmo tempo, intensificam seu comportamento sem qualquer tentativa de comunicação visando à solução da disputa.
O segundo e mais grave sintoma aparece quando as partes em disputa passam a justificar seu comportamento com o argumento de que não existe qualquer alternativa à solução da disputa, independentemente dos seus custos e consequências.
É neste momento que o conflito vira um fim em si mesmo, em uma espécie de Fla-Flu ideológico.
Neste ponto, o beneficio do confronto de ideias se perde e cede lugar à ideia de que a coexistência pacífica de partes com posições diferentes é impossível. As partes atribuem unicamente ao adversário a culpa. Aos adversários, somente é reservado o direito de concordar.
Mediar é promover a comunicação efetiva entre as partes. Ainda que isto requeira rearranjar os móveis da sala. 

Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Emailesimoes@uvic.caEscreve aqui às segundas-feiras

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