terça-feira, 31 de julho de 2012

Qual verdade?, por Ateneia Feijó


POLÍTICA

Nestes tempos de bóson de Higgs ou “partícula de Deus”, os bate-papos cabeça sobre ciência versus religião parecem ter retornado às rodas de leigos apaixonados pela matéria. Na verdade, sempre existiu quem gostasse de imaginar partículas subatômicas a dançar na dimensão (ou dimensões?) deste mundo.
Seria para entender a “mente de Deus”? Misticamente ou como metáfora... Não importa. A curiosidade metafísica identifica o ser humano há milênios. Mesmo em épocas tenebrosas, como a vivida por Galileu no século XVII, quando a Igreja impunha o dogma de que o arquiteto divino colocara a Terra no centro do Universo.
Ainda hoje, dogmas são perigosos: religiosos, filosóficos ou políticos.
Em contrapartida, é possível encontrar gente inteligente trocando ideias sobre transcendência. Melhor ainda: de uma forma acessível a cidadãos comuns. Exemplo? O papo entre Frei Betto e o físico astrônomo Marcelo Gleiser, no livro “Conversa sobre a fé e a ciência” (lançado ano passado).
O religioso e o cientista agnóstico falam de tudo; de iniciação sexual a astroteologia. Sem deixar de reconhecer que, muito antes das ciências, as religiões já se propunham a contar a história da origem do cosmos e das pessoas.
Isso costuma confundir quem não percebe a convergência entre ciência e religião: as grandes perguntas! Mesmo que sejam cada qual com suas funções, essas perguntas são muito parecidas. Por quê? Porque todas acabam girando em torno do sentido da vida.
Além disso, bons cientistas e bons religiosos têm como objetivo eliminar o sofrimento humano. E a morte?
No livro, frei Betto confidencia que graças à fé tem esperança de sua morte não ser definitiva. Em cerimônias fúnebres, ele não usa a palavra morte e sim a palavra “transvivenciar”. Já Gleiser cita uma corrente de pensamento para a qual o envelhecimento é uma doença que pode ser curada. (Imortalidade?)
Cá com meus botões, o que somos? Um bando de moléculas, que são um bando de átomos, que são um bando de quarks e elétrons... E aí descobrem o bóson de Higgs, uma partícula fundamental para agregar matéria. O que virá daqui em diante?
Cientistas tentam desvendar os mistérios do Universo tentando desvendar o que somos e nunca se satisfazem. E os religiosos? É nas respostas que ciência e fé não se cruzam (são paralelas).
Em tempo. Andre Sznajder é o único físico brasileiro a participar da experiência do bóson de Higgs. Ah, “partícula de Deus” é apenas um apelido. Até porque o mundo não aguenta mais guerras santas.

Ateneia Feijó é jornalista

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