terça-feira, 8 de outubro de 2013

Novo degrau de juros, por Miriam Leitão

COLUNA NO GLOBO


Nesta reunião do Copom, o Banco Central terá a vantagem de ter o dado da inflação de setembro, na quarta-feira, dia da decisão. E o número tem grande chance de ser o primeiro, desde dezembro, que puxa a inflação acumulada em 12 meses para uma taxa ligeiramente menor que 6%. O BC já comemora antecipadamente, esquecido que parte do resultado é fruto da repressão dos preços administrados.
A notícia da queda da inflação é boa, mas o BC sabe que isso é média de uma taxa de preços livres, que está em 7,64%, e de preços administrados, que está em 1,27% nos últimos 12 meses. A inflação de serviços e de alimentos permanece alta. Portanto, não é hora de fazer a comemoração que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez na semana passada em Lisboa, ao falar que a inflação está controlada e em queda: ele sabe que parte do resultado é artificial.

A previsão mais comum no mercado é de nova alta dos juros de 0,5 ponto percentual, coisa que não aconteceria se a inflação estivesse fora da zona de perigo. Foi por ter sido condescendente no passado que a taxa subiu, ficou alta muito tempo, e levou o Banco Central a ter que retomar o caminho da elevação dos juros.

Um dos preços que têm sido mantidos sob controle e criado distorções é o da gasolina. Ontem, a presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que o ministro Edson Lobão admitiu que é possível um reajuste até o fim do ano, mas que não há data. É meio constrangedor para a presidente da maior empresa do país ter que ir a Brasília discutir o preço do seu principal produto. Esse problema tem afetado a geração de caixa da petrolífera e é uma das razões que a Moody’s argumentou para reduzir a nota da companhia.

Graça Foster, a propósito, reagiu da forma correta à redução da nota. Disse que “ninguém gosta de nota baixa, mas respeitamos a avaliação da Moody’s” e disse também que “mesmo mantendo grau de investimento, a nova nota é um alerta, e a Petrobras está atenta”. Em vez de ir pelo caminho de criticar as agências, muito comum no atual governo quando a notícia não é boa, ela reagiu admitindo o problema e informando que aumentará a produção e isso vai melhorar indicadores em breve. Por mais que as agências tenham errado, desta vez ela fez um alerta correto. E a executiva da empresa fez bem em reagir desta forma, em vez de atacar o mensageiro.

O Banco Central, no entanto, tem tentado tapar o sol com a peneira. Os indicadores fiscais estão ficando piores e perdendo qualidade, como alertou a agência, mas o Copom na última reunião disse que a política fiscal caminha para a neutralidade. Deu uma guinada completa do que falara nos meses anteriores, quando alertou para o risco inflacionário do aumento de gastos.

É melhor para o governo, até do ponto de vista político-eleitoral, que o Banco Central seja mais duro em relação à deterioração fiscal do país, porque em 2014 naturalmente haverá mais relaxamento. É muito raro um governo fazer ajuste em ano eleitoral. O governo está ampliando os gastos e piorando os indicadores na antevéspera da eleição, confiando em que as concessões e os leilões de privatização de infraestrutura vão gerar as receitas extraordinárias para melhorar as contas públicas no ano que vem.

No curto prazo, no entanto, as notícias são boas. Espera-se que o IBGE divulgue uma inflação moderada para setembro, em torno de 0,3% e 0,4%, e que isso reduza a inflação em 12 meses para 5,9%. Mesmo com esse resultado, o Banco Central deve elevar a taxa de juros para 9,5% na quarta-feira. Se esse será o ponto final no ciclo de aperto monetário dependerá do que o BC disser nas suas comunicações pós-reunião.

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