sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cartas de Seattle: No topo do mundo, por Melissa de Andrade



Será que uma só pessoa pode ser responsável por consolidar uma determinada característica em um povo? Será que um grande feito pode ter o mérito de direcionar uma região para um destino?
A região de Seattle já era conhecida pelos esportes ao ar livre, notadamente escaladas, quando Jim Whittaker realizou a façanha que inspira multidões há meio século. Em 1º de maio de 1963, ele se tornou o primeiro norte-americano a chegar ao topo do Everest.
A expedição é sempre lembrada como o marco que firmou Seattle como referência na comunidade de alpinismo de picos altos, já que Jim Whittaker nasceu aqui. A auto-imagem local, sempre ligada a uma vida saudável perto da natureza, ganhava pitadas de aventura e pioneirismo.
Note bem – os primeiros a escalar o Everest com sucesso foram o neozelandês Edmund Hillary e o nepalês Tenzing Norgay, numa expedição liderada pelo britânico John Hunt dez anos antes.
Jim Whittaker se manteve um ícone dos Estados Unidos ao longo dos anos, ficando amigo de gente famosa como os Kennedy e ajudando a desenvolver a empresa de materiais de esportes de aventura R.E.I., de onde se aposentou como CEO.

Jim Whittaker. Foto: Steve Jurvetson @CC

O aniversário de 50 anos da expedição colocou o animado alpinista de 84 anos de volta aos holofotes. Ele está em todo lugar declarando que ainda considera o montanhismo uma atividade transformadora, mesmo lamentando que as montanhas tenham se tornado lugar de esporte que atrai gente demais e objetos caros demais.
O velho alpinista era de uma época que não tinha GPS nem marcas no caminho ao cume nem telefone para ligar pra família, como fez o filho dele quando escalou o Everest pela primeira vez. Alpinista que sobrevivia a um grande feito era tratado como herói, recebido pelo presidente na Casa Branca e parado na rua para dar autógrafos.
Há um pouco de saudosismo e muito de paixão por uma atividade a que dedicou boa parte da vida. Whittaker cansou de subir o Monte Rainier, a montanha-vulcão que dá para ver de Seattle, e que ainda surpreende muito candidato a alpinista que acha que o desafio é fácil.
Famílias inteiras que nunca pensaram em subir a montanha criaram os filhos mencionando Mr. James W. Whittaker como exemplo para sair de casa e explorar a natureza. Whittaker sempre teve a expectativa de que, ao gostar de fazer isso, as novas gerações quisessem cuidar mais e mais dos recursos naturais. Pelo menos entre os ecologicamente corretos de Seattle, parece que a influência deu certo.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

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