segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CRÔNICA Cartas de Londres: um ex-Monty Python deixa o Brasil mais pop



Foi nesta cidade que, pela primeira vez na vida, ouvi um universitário citar Buenos Aires como capital do Brasil.
Também foi aqui que precisei responder à pergunta “O que de importante existe no seu país?”
Ainda aguentei uma torcedora do Crystal Palace (?) questionar o motivo de os clubes brasileiros serem “tão desconhecidos”. Mas há algumas semanas uma mudança parece estar em curso. A curiosidade por nós, enfim, apareceu. E o motivo se chama Michael Palin.
Ex-membro do “Monty Python”, o grupo humorístico mais cultuado do mundo, Palin é um viajante profissional há mais de 25 anos. Foi ao Saara, ao Himalaia, rodou a Europa, os Estados Unidos e até pela Bolívia ele passou. Mas só pisou no Brasil neste ano.
“Era uma lacuna no meu passaporte”, disse ele no primeiro dos quatro programas que fez para a BBC. “Vai ser o país mais observado do mundo até 2016, é uma economia em expansão. Tinha de ir agora.”
Documentário de um humorista, não de um jornalista. Pois o resultado foi uma mudança nas perguntas, pelo menos na universidade. “Você já foi à Amazônia?” “Tráfico de escravos no Brasil?” “Por que não ouvimos falar sobre a ditadura do Brasil?” “Ninguém rouba ouro daquela igreja da Bahia?” “O Cristo Redentor é tão alto quanto parece?” “Você é daquela cidade dos helicópteros?” “Vocês têm militares para proteger as riquezas naturais?” “Brasileiros alemães?”
Todos eles adoram viajar, principalmente para a Europa (caro leitor, na semana passada tratei disso: Reino Unido não é Europa).
Entre os meus 49 colegas, apenas três já passaram pelo Brasil -- mais da metade já foi à África ou aos EUA. Quem foi diz que gostou, apesar da insegurança. Um deles quer ir à Copa do Mundo e ficar para sempre, “já que deve haver mais empregos que aqui”.
Mas é notório que nestas bandas país emergente ainda quer dizer China e Índia.
Graças a Palin essa noção de uma nova potência, mais amistosa que as outras, parece ter começado a se popularizar entre os britânicos -- os que se interessam por economia já demonstram interesse desde minha primeira passagem por aqui, em 2010.
A comunidade brasileira aqui tem pouca influência: nem o Carnaval é exclusividade nossa, já que as samba schools de Londres (sim!) dividem espaço com grupos caribenhos bem menos animados.
Ao menos já ganhei o direito de me indignar se citarem Buenos Aires como capital brasileira.

Maurício Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do blog A Brazilian Operating in This Area Twitter: msavarese. Email: savarese.mauricio@gmail.comMaurício estará conosco todas as segundas-feiras.

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