segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Incautos, cuidado!Ele voltou


Davi Coimbra


Criciúma me deu sorte. O primeiro texto que escrevi para o Diário Catarinense, publicado na primeira, primeiríssima edição da história do Diário Catarinense, em 5 de maio de 1986, foi sobre o empate do Criciúma com o Avaí, um zero a zero seco e pachorrento no Heriberto Hülse. Minha matéria também saiu seca e pachorrenta, admito. No número de inauguração do jornal não estávamos autorizados a ousar — queríamos botar o DC na rua, e pronto.
Mas, depois daquele dia, eu e o Criciúma nos tornamos mais atrevidos. O Criciúma era treinado pelo Zé Carlos, o mesmo que foi um centromédio de futebol escorreito do Cruzeiro de Dirceu Lopes e do Guarani de Zenon. Sobre o Zé Carlos, um dia me disse o Tostão, durante uma cobertura da Seleção Brasileira:
— O Zé Carlos nunca deu um drible. E nunca errou um passe.
Foi com cautela mineira que o Zé Carlos armou aquele Criciúma de meados dos anos 80. O time foi se ajustando. Seu jogo primeiro se tornou eficiente, depois consistente e, por fim, sofisticado. Os dois laterais, Sarandi e Itá, marcavam com a energia de buldogues e atacavam com a ferocidade de dobermanns _ dois cães de guarda. No ataque, o ponteiro Guinga era uma mistura de Garrincha com Cafuringa. No outro lado, o cearense Jorge Veras fazia gol em todos os jogos. Se não fizesse, Vanderlei emergia do meio-campo e fazia por ele. De centroavante, o habilidoso Edmilson parecia o velho Rei Reinaldo. E, na alta intermediária, o galalau Rached se transformou no dono do time e dos corações femininos da cidade. Mulheres solteiras e outras nem tanto demonstravam toda a sua admiração pelo camisa 10 do Tigre zanzando coloridas pelo pátio do estádio ou acossando-o quando ele irrompia numa das três principais casas noturnas da região: a Aquarius, a Signus e a União Mineira.
Com esse timaço, o Tigre conquistou seu primeiro Campeonato Catarinense em 1986, foi promovido da série B para a série A e, na primeira divisão, mostrou suas garras, para assombro do país. Sorte minha, porque  onde o Criciúma ia, eu ia atrás. Viajei com o Tigre pelo Brasil inteiro, minhas matérias apareciam com as vitórias e logo estava assinando uma coluna modesta, porém sincera, nas páginas de fundo do Diário Catarinense.
Aquele primeiro grande Criciúma foi exatamente isso: o primeiro. O precursor. Depois das vitórias daquele time, o Criciúma aprendeu que podia enfrentar qualquer um, em qualquer parte. Cinco anos depois, com Grizzo, Roberto Cavalo e Gélson na meia-cancha, conquistou o Brasil e só não disputou o título da Libetadores porque, em seu caminho, havia uma pedra do tamanho da Ponte Hercílio Luz: o São Paulo de Telê Santana.
Agora o Criciúma está de volta à Primeira Divisão. Muito parecido com aquele time do velho Zé Carlos, esse foi se ajustando aos poucos _ primeiro se tornou eficiente, depois consistente e, quando estrear contra os melhores do Brasil, no ano que vem, certamente estará mais sofisticado. Então, o que se poderá esperar do Criciúma? Talvez os outros não saibam, mas o Criciúma, cimentado por sua própria história, sabe. Sabe que os incautos devem ter cuidado: o Tigre vem aí.

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