quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CRÔNICA Cartas de Berlim: Merkel é persona non grata em Portugal



Portugal recebeu nesta segunda-feira a chanceler Alemã, Angela Merkel.
A visita simbólica a Lisboa foi recebida como em Atenas há mais ou menos um mês, com muitos protestos e muito cordão de segurança. Na agenda, encontro com o presidente Cavaco Silva, o primeiro ministro Pedro Passos Coelho e reuniões com empresários.
Apesar da revolta do povo, a chanceler defendeu as medidas de austeridade impostas pelo Banco Central Europeu (BCE), Comissão Européia e o FMI, trinca alcunhada de “Troika”, mas parabenizou o país por estar obedecendo às medidas. Em 2011 Portugal recebeu da “Troika” 78 bilhões de Euros.
O protesto começou a ser organizado remotamente pelo Facebook, onde quase 3000 usuários confirmaram “presença” no evento público “Que Se Lixe a Troika! A Merkel Não Manda Aqui!”.
Eram compartilhadas montagens com a imagem de Merkel e associações a Hitler e Nazistas, o que eu particularmente acho meio além da conta. Mas paciência.


Portugal enfrenta, como todos sabem, uma grave recessão, com uma taxa de desemprego de 15,6%. Uma personagem dessa realidade é Maria do Carmo, portuguesa entrevistada pelo jornal Die Zeit. Ela tem um salão de beleza e faturava há um ano pouco mais de 2000 Euros. Também trabalhava como professora de música em uma escola para completar a renda.
Com a crise, Maria tira hoje apenas 400 Euros com os poucos clientes que ainda frequentam o salão, e a escola fechou. O aluguel é pago com a aposentadoria da mãe, 300 Euros, que outrora havia de sustentar, junto a mais 4 filhos. “As pessoas começaram a comprar tintura e fazer tudo em casa”, contou.
Angela, que em alemão se pronuncia “Anguêla”, como sempre foi muito diplomática e não disse nada de novo.
Porém, estava vendo a entrevista que ela deu ao canal português RTP, e logo no início ela dá uma resposta incrivelmente honesta sobre o empréstimo da Troika, a qual vou reproduzir resumidamente aqui: “Sinceramente, não entendo o porquê dos protestos. Não fui eu quem assinei o contrato”.
Esse é exatamente o tipo de sinceridade mais característico dos alemães. E também, o mais difícil de se acostumar.

Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário