quarta-feira, 7 de novembro de 2012

CRÔNICA Cartas de Berlim: De quem é Berlim?



Semana passada fui ao cinema e vi “Oh Boy” (2012), um filme alemão recém-lançado aqui. Niko, protagonista vivido pelo ator Tom Schilling, largou a faculdade de direito e vive um momento de crise existencial. Vagando por uma Berlim retratada em preto e branco em mais um dia de cão, tenta comprar um simples cafezinho no café mais próximo. O que ele não esperava era ter que pagar 3,40 Euros por um espresso. Pô, Berlim não era pobre?
A barista tenta explicar a diferença entre os vários tipos de café ali oferecidos. Mas não. Niko quer apenas um café normal, preto. “Temos leite de soja!”, diz a moça. Não, peloamordedeus!
Ou quando ele vai a hamburgueria mais trendy de Berlim, White Trash, e a rude garçonete, provavelmente americana, o atende em inglês, muito embora ele fale alemão com ela. Na boa, Niko, se você não tivesse ido àquela cafeteria trendy ou à hamburgueria trendy, eu não estava aqui falando sobre isso.

Tom Schilling, o ator de 'Oh, Boy!'

Depois fui me dar conta de quantos filmes vi nos últimos três anos que têm a capital alemã como pano de fundo. Muitos. Estariam os roteiristas alemães meio limitados das ideias ou seria a cidade o cenário ideal para falar sobre algumas problemáticas das metrópoles modernas?
Não, minto. Alguns filmes que eu vi se passaram em Hamburgo. Mas quem liga? Berlim é a cidade do momento. Todas as nações do mundo se encontram ali e há mais tolerância ao novo do que em qualquer outra capital européia. A cidade vive todos os tipos de boom: imobiliário, turístico, histórico, fashion.
Mais do que tudo, Berlim também combina muito com a crise. Berlim é “pobre, mas sexy”, e esse slogan cai muito bem para os jovens europeus que, sem emprego, tentam se encontrar em uma grande massa de proletariado criativo, envolvidos em “projetos paralelos”.
Quer uma carreira? Vai para Düsseldorf ou Munique. Quer uma vida lúdica, dinâmica, colorida? Vai para Berlim - e receba ajuda social. Brincadeirinha.
Afinal, qual é a de Berlim? Lembra daquela história de que os parisienses são mal humorados e deixam suas mochilas e bolsas no banco vazio no trem lotado? Agora tem o “echter Berliner”, o verdadeiro berlinense. Ele não tolera mais o deslumbre dos turistas e o preço inflacionado de tudo o que na verdade era dele, só dele. Ele é chato e rabugento. Ele está em extinção.
De quem é a cidade? De quem é a metrópole? Berlim é de todos.

Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com

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