sábado, 6 de outubro de 2012

A eleição que poderá mudar a Venezuela (Editorial) O Globo



Não é como as outras a eleição presidencial de amanhã na Venezuela. Pela primeira vez, Hugo Chávez enfrenta uma oposição que conseguiu tornar difícil a previsão do resultado. Caso em que a lisura do pleito torna-se essencial.
A existência de fraudes, ou mesmo a denúncia delas, pode levar a situações perigosas de exacerbação de ânimos, inflamados pela disputa eleitoral. Assim, é indispensável a atenção da comunidade internacional ao desenrolar da votação.
Até porque o governo destacou a Milícia Bolivariana, força ligada diretamente ao Palácio Miraflores, para supostamente garantir a ordem no pleito. E não haverá observadores internacionais independentes, mas da Unasul, da qual a Venezuela faz parte.
Chávez quer ser reeleito para um terceiro mandato (sem contar os anos de 1999 e 2000, antes da reforma constitucional), o que lhe possibilitaria chegar aos 20 de poder. Mas há um dado novo: em junho de 2011, ele anunciou, de Cuba, que havia sido operado de câncer na pélvis. Somente em julho de 2012, depois de inúmeras internações em Havana, declarou-se livre da doença.
Mas, como todo o episódio virou segredo de estado, não se sabe se, uma vez reeleito, o homem que transformou por dentro a democracia venezuelana numa virtual ditadura terá forças para ir ao fim do mandato de seis anos. A falta de um candidato formal à vice-presidência aumenta a incerteza quanto à sucessão.
O adversário de Chávez é Hugo Capriles, advogado de 40 anos, governador do estado de Miranda e escolhido em primárias pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), de oposição. Ele percorreu todo o país e evitou bater de frente com o líder bolivariano, prometendo manter talvez seu legado mais importante — as “missões populares”, para a melhoria das condições de vida da população mais pobre, via assistência médica, construção de moradias, escolas e outros instrumentos de transferência de renda.
É sério o temor de que, se for derrotado, Chávez recorra a algum artifício para se negar a entregar o poder. Isto precipitaria a quase ditadura chavista num regime de arbítrio absoluto que, como tal, teria de ser excluído do Mercosul, da Unasul e execrado pela comunidade internacional. Esta teria de fazer todos os esforços para garantir a posse da Capriles.
Mesmo no caso, provável, de novo triunfo chavista, o país não será o mesmo. Impossível ignorar uma oposição depositária da esperança de que o regime comece a reparar erros tremendos.
Chávez ampliou o setor público na mesma proporção que estrangulou o privado. Segundo o “El Pais”, as empresas privadas eram 11 mil em 1998 e hoje somente 7 mil sobrevivem.
A inflação em 2011 foi de 27,9%. Metade dos empregos é informal. Caracas é, de longe, a capital mais perigosa da América do Sul. Os venezuelanos têm direito a um país melhor, com liberdades, entre elas a de expressão.

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