quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Uma nova esperança!



CARLOS VIEIRA
Átila encontra-se comigo para tomarmos um café, um belo café italiano numa cafeteria do Lago Sul. Inquieto, ansioso, espero. Enquanto o tempo fluía numa noite seca de agosto (agosto e setembro são meses que o bom senso governamental deveria dar férias!) viajava imagéticamente em temas ligados ao “Julgamento do Mensalão”. 
Desconheço na minha idade sexagenária fato semelhante: o poder supremo do nosso pais, o Supremo Tribunal Federal ter em suas mãos e sob sua responsabilidade, não de julgar somente os “mensaleiros”, mas a própria integridade, seriedade, ética e compromisso social do Poder Judiciário. 
Bravo o presidente Aires Britto e seus colegas, destaque faço ao Ministro Joaquim Barbosa! Quero acreditar que a Corte Suprema descobriu que a “justiça não é cega”; que a pessoa de um juiz sofre as vicissitudes da mente humana: vulnerabilidade às pressões externas, e principalmente internas, no que toca à sua ética interior, à sua história de formação humanística, de engajamento político como cidadão comum e até, por incrível que pareça, às suas “tendências transgeracionais e educacionais”. 
Lamentavelmente, ainda nesse Brasil, o peso de facções políticas no Poder Governamental, ainda pode indicar (?) ou pressionar, que na Suprema Corte tenham vestidos em suas “togas romanas” alguns homens comprometidos de maneira passional, lutando mais por seu “ideal partidário” do que pela sua estirpe ética como defensor da injustiça crônica nesse nosso país ainda meio “imperial”. 
Bom, parece que a maioria dos nossos “protetores supremos”, de repente, sonharam e estão tentando realizar os “ossos do seu ofício”, de uma maneira inédita, nova e revolucionária. Digo revolucionária, no sentido de que “mudança revolucionária” só é possível se o “status quo” é quebrado, confrontado, transformado, proporcionando uma nova ordem. Como psicanalista sei como é difícil – mudança psíquica – pois exige ousadia, coragem, astúcia, sabedoria e capacidade de tolerar perdas, principalmente de benefícios secundários pelas benesses do Poder. 
Bravo o Presidente Ayres Britto, bravo mais a “calma ousada e corajosa” do Ministro Joaquim Barbosa. Um relato profundo, trabalho exaustivo de alguém que tem paixão pelo que faz, e de uma coragem de um Ulisses que sabe não se seduzir pelo Canto das Sereias do Planalto Central. 
Julgam-se homens, suspeitos de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro público e de uso perverso do Poder para beneficiar, eles mesmos e colegas de partidos na intenção fantástica, delirante e alucinatória de permanecerem no Poder anos e anos a fio. O Império, a manutenção da Aristocracia, o coronelismo e o ideal de Governar para sempre precisam sofrer o golpe fatal - O Supremo traz o exemplo, exemplo que servirá para a população jovem desse país, ainda atônita, descrente e sem confiança na Política, na Justiça e numa Ética não perversa. 
O julgamento é antes o julgamento dos três Poderes. Espera-se que cúpula do Judiciário resgate, tanto nele como nos outros poderes da República, uma mentalidade mais sadia e menos perversa. Uma consequência já é evidente: os “poderosos políticos, executivos e empresários comprometidos com a corrupção”, já exalam e relevam a agonia e a angústia de serem julgados e desmoralizados perante a opinião pública e principalmente aos jovens. A juventude (governantes do futuro) não pode, a partir desse momento, ter memória curta! Os novos eleitores clamam por um país mais justo socialmente, e não pela repetição mórbida de um sistema político desacreditado. 
É do itabirano Carlos Drummond de Andrade um insight que sempre me emociona quando leio e releio: “...falta de memórias em minhas memórias. A perda de memória transforma em verdade a nossa imaginação.” Fragmento no capítulo XXI – Divagação Final – do seu belo livro: “Tempo Vida Poesia”. 
O momento atual desse histórico julgamento, caso seja justo, deve ser introjetado e incorporado em nossas mentes, para resgatar a crença na fé e na ética dos governantes do nosso país.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

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