quarta-feira, 26 de setembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - ARQUITETURA A Sereníssima República de Veneza e seu Palácio (Parte III)



Como mencionei ontem, a visita ao Palácio Ducal não é linear. Formado por três alas, sendo a mais recente, palavra que entra aqui de soslaio, a chamada residencial ou renascentista, que sofreu grandes intervenções entre 1438 e 1565.
O acesso era pela Escadaria dos Gigantes. É a ala dos apartamentos privados dos doges e de muitos dos ambientes dedicados à administração da República. No alto da escadaria o Doge era coroado “dux” para os venezianos. Em cerimônia de grande aparato, recebia o corno ducale e recitava a Promissione, ou promessa de defender e respeitar para sempre a constituição da Sereníssima.


Os apartamentos dos doges ocupam somente um dos andares da ala e para chegar lá é necessário subir a Scala d’ Oro (foto acima), outra obra extarordinária de Sansovino. Erguida em meados do século XVI a escada deve o nome ao estuco dourado que orna seu teto em abóboda. Era utilizada apenas pelos Magistrados e visitantes grados.
Ao vencedor as batatas não foi bem o caso de Napoleão em Veneza. Seu exército pilhou tudo que pode desses ambientes e hoje só vemos lá o que não foi possível levar: as pinturas nos tetos e as formidáveis lareiras em pedra lavrada.
De uma ala para outra, subimos e descemos algumas vezes...
Falar de todo o palácio ducal é desnecessário. Há inúmeros sites sobre essa monumental construção, sendo os franceses e italianos os melhores. Meu objetivo é justamente despertar a curiosidade dos leitores. Portanto falarei apenas das duas salas que mais impactam os que amam as Artes e a História.


Na ala que dá para a piazzetta, a Sala do Escrutínio, ou da votação (acima). É a segunda em tamanho. Toda a decoração da sala foi inspirada em batalhas navais, como A Conquista de Zara, na Quarta Cruzada (1202/1204), por Tintoretto:


A votação merece ser mencionada. Eram nove turnos, cada turno reduzia mais a lista de candidatos. Terminado o nono turno um representante dos conselheiros era escolhido para ir à rua e convocar o primeiro garoto com menos de quinze anos que encontrasse para ser o contador dos votos, o chamado ballotino, que seria o contador de votos oficial durante todo o governo do candidato vencedor.
Mas é na ala que dá para a laguna que encontramos a maior e mais extraordinária sala: a do Grande Conselho. Com 54 metros de comprimento, é um salão que impressiona pelo tamanho monumental: nele podiam se reunir até 2000 membros da aristocracia. Todo o poder e a glória da República estavam ali demonstrados. Dá para imaginar o espanto dos que a viam pela primeira vez e foi esse o objetivo com que foi planejada.


Ali estão pinturas de grandes mestres como Bassano, Veronese e especialmente Tintoretto, que criou numa de suas paredes uma magnífica obra: o Paraíso. Para além de sua perfeição como arte, é a maior pintura a óleo do mundo. Tintoretto a iniciou já idoso e seu filho Domenico foi quem a terminou. Não acredito que a luz mística dessa pintura deixe de emocionar quem a olhe com atenção:


(Nessa sala, no alto, junto ao teto, está a frisa da qual falei ontem, com o espaço para a imagem do doge traiçoeiro coberto por um pano preto. Se quiser reler, clique emParte II
Continuamos amanhã.

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