quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Livro de militar traz uma versão diferente sobre a morte de Bin Laden


Relato diz que terrorista foi atingido assim que saiu do quarto e não teria esboçado reação


A capa do livro “No easy day”, sobre a operação que matou Osama bin Laden
Foto: AP
A capa do livro “No easy day”, sobre a operação que matou Osama bin LadenAP
WASHINGTON - O relato em primeira pessoa de um membro dos Seals - a unidade de elite da Marinha americana responsável pela morte de Osama bin Laden - contradiz a versão apresentada pelo governo, com uma descrição menos heroica da operação que se converteu num dos principais trunfos políticos do presidente Barack Obama. As revelações fazem parte do livro “Não há dia fácil: Um líder da tropa de elite americana conta como mataram Osama bin Laden”, que teve seu lançamento adiantado para o dia 4 de setembro (inclusive no Brasil). De acordo com o relato da agência Associated Press e do site Huffington Post, que tiveram acesso à publicação, Bin Laden estava desarmado e já havia levado um tiro na cabeça quando os Seals invadiram o quarto, em sua casa, em Abbottabad, no Paquistão.
As divergências em relação à narrativa apresentada pelo governo começam já na chegada da equipe ao complexo onde Bin Laden morava. O conselheiro de Contraterrorismo da Casa Branca, John Brennan, disse, inicialmente, que o terrorista havia se engajado num tiroteio com os militares. “O ataque foi relatado como um filme de ação ruim”, afirma o Seal. De acordo com o livro, o famoso tiroteio de 40 minutos mencionado pela imprensa jamais ocorreu.
O autor, que escreveu o livro sob o pseudônimo de Mark Owen, foi identificado pelo canal Fox News como Matt Bissonnette, de 36 anos, militar que já foi condecorado com cinco Estrelas de Bronze (medalha por bravura ou mérito) e com o Coração Púrpura (honraria concedida pelo presidente aos que se feriram ou morreram em combate).
Segundo o relato de Bissonnette, enquanto os Seals subiam por uma escada estreita, o militar que seguia na frente da equipe avistou um homem espiando pela porta. “Estávamos a menos de cinco passos de chegar ao topo (da escada) quando ouvi tiros abafados. Não poderia dizer da minha posição se os tiros haviam atingido o alvo ou não. O homem desapareceu no quarto escuro”, descreve.
Quando a equipe entrou no quarto, Bin Laden já estava mortalmente ferido. “Sangue e miolos espalhados do lado de fora de seu crânio”, escreveu, embora ainda tivesse espasmos e convulsões.
Enquanto Bin Laden estava em seus últimos momentos de vida, Bissonette e outro Seal apontaram os lasers na direção do peito do terrorista e atiraram diversas vezes. “As balas o rasgaram, batendo seu corpo contra o chão até que ele ficasse imóvel”. A partir deste momento, os militares examinaram o rosto do líder da al-Qaeda para se certificar de sua identidade. Uma jovem garota e uma das mulheres que choravam a morte do terrorista confirmaram. A descrição se opõe ainda à versão corrigida dos fatos pela Casa Branca, que disse, um dia depois da operação, que Bin Laden não estava armado, mas havia resistido à operação de captura.
Durante a operação de busca, os militares encontraram um fuzil AK-47 e uma pistola Makarov, mas elas estavam descarregadas. “Ele não havia preparado uma defesa. Não tinha intenção de lutar. Ele pediu a seus seguidores por décadas que usassem coletes suicidas ou que jogassem aviões contra prédios, mas não foi capaz de pegar sua própria arma”, relata Bissonnette.
O livro desmente ainda o relato de que o corpo do líder da al-Qaeda teria sido tratado com dignidade antes de ser jogado no mar. O autor afirma que num voo de helicóptero lotado na saída de Abbottabad, um militar viajou sentado sobre o peito de Bin Laden, enquanto o corpo jazia aos pés de Bissonnette no meio da cabine.
História pode virar filme
O porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, Tommy Vietor, se recusou a comentar sobre o livro. “Como o presidente Obama disse na noite em que a justiça foi trazida a Osama bin Laden, ‘nós agradecemos aos homens que realizaram essa operação por seu exemplo de profissionalismo, patriotismo e coragem sem paralelo daqueles que servem nosso país’”.
O anúncio de lançamento causou enorme polêmica nos EUA, especialmente porque o livro não passou por uma revisão do Pentágono para evitar a revelação de segredos. Com uma cópia do livro em mãos, o órgão revisa agora o conteúdo da publicação para verificar se ela tem informação confidencial e determinar que passos podem ser tomados em relação ao autor, inclusive do ponto de vista judicial. Após a divulgação do nome de Bissonnette, fotos do militar foram publicadas num site oficial da al-Qaeda sob a descrição “o cão que assassinou o mártir Osama bin Laden”.
“É um livro que tenho orgulho de ter escrito. Minha esperança é que ele dê a meus companheiros americanos um vislumbre da grande honra que é servir ao país”, disse Bissonnette, em nota, ao “New York Times”. Ele ressaltou que o livro não contém informações que coloquem em risco a segurança nacional.
Tudo isso só aumentou o interesse do público pela obra. A primeira edição foi ampliada de 300 mil para 575 mil exemplares e a pré-venda já ocupa o primeiro lugar nas listas de best-sellers da Amazon e da Barnes&Noble. E a hitória pode acabar no cinema. O cineasta Steven Spielberg já estaria negociando os direitos de filmagem.

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