segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CRÔNICA



“Prova de Ciências”.
Giulio Sanmartini
Sou do tempo que se colava na escola, aliás havia até um provérbio: Quem não cola não sai da escola.
Durante o primário fui um aluno politicamente correto, ficava triste quando não tirava 1° lugar e minha mãe zangava-se se tirasse 2°, era o máximo de tolerância que me permitia. O 1° lugar me servia para ganhar 3 cruzeiros, ou seja o suficiente para tomar uma Coca-Cola, esta custava somente 1,50, mas devia-se deixar outros tantos como depósito do casco, que eram restituídos quando da devolução. Eu não queira o dinheiro de volta, comprava tudo de “coco de rato” ou seja uns pacotinhos feitos com papel cristal colorido onde colocava-se pipoca de arroz, com a importância me vinham 6.
Tive que mudar de escola e até chegar ao ginásio, mudei três sempre com uma queda acentuada na minha qualidade de estudante.
A entrada no ginásio, foi importante eu ainda não tinha feito 11 anos e minha avó me deu 5 cruzeiros, nem pensei em comprar gulodices, era um ginasiano, portanto adquiri um maço de cigarros Luiz XV, era dos melhores.
Do fumo ao hábito de colar nas provas foi um pequeno passo. Tinha matérias que gostava e outras detestava, portanto minha notas iam do máximo ao mínimo dependendo do assunto. Assim, para passar de ano via-me obrigado ao costume de colar, não me era muito difícil pois fazia uma troca, dava cola sobre o que sabia e recebia sobre aquilo que ignorava. Tinha que ser ajudado em matemática,  português e desenho, retribuindo  em latim, francês e   ciências.
Dependendo do rigor da fiscalização exercida pelo professor, às vezes conseguia colar do livro ou  levar um “lembrete”. Entretanto a forma mais usada era de copiar dos colegas, ou ser soprado.
Há a história de um aluno cujo professor deu-lhe zero alegando que havia colado de seu colega de carteira. Diante da negativa veemente o mestre apresentou um argumento irrefutável:
- Claro que você colou,  na pergunta número 5 teu colega de carteira escreveu: não sei; e na mesma pergunta você respondeu: eu também não.
O fato que vou contar aconteceu de verdade, tínhamos prova de ciências, o professor era um padre alemão chamado Felix, muito bom mas com variações de humor tremendas. Nesse dia resolveu afastar meu colega de carteira, Roberto Serapião pois sabia que eu permitia que olhasse o que havia escrito. Assim para dar cola tinha que soprar. A assunto era  corpo humano. Começava pela divisão dos membros superiores, mandei logo para ele falando baixo – braço, ante braço e mão. Ele demonstrou ter entendido. A outra pergunta era sobre os osso do ante braço. Naquele tempo o ulna ainda chama-se cúbito. Mandei logo  sussurrando: rádio, cúbito, Serapião pareceu não entender e assim tive que repetir mais algumas vezes. Na outra semana quando chegaram as notas ele havia tirado zero.
- Como assim? – perguntei.
- O padre Felix disse que eu colei.
- Como descobriu?
- Foi na resposta dos ossos do ante braço, você me soprou “rádio clube” eu para dar uma força à resposta acrescentei PRK 22 que é o prefixo dessa rádio. Nem sei como ele descobriu que eu tinha colado.

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