domingo, 26 de agosto de 2012

Chico Viola morreu


GOIS DE PAPEL



Por Ana Cláudia Guimarães
Em setembro vai fazer 60 anos do primeiro grande enterro da era da comunicação de massa, num tempo em que o rádio vivia seu apogeu. Dia 27 de setembro de 1952, às 18h30m, morria Francisco Alves, o Rei da Voz, num choque de seu Buick com um caminhão na Via Dutra. Foi uma comoção nacional. As rádios não paravam de tocar suas músicas — principalmente, “Boa noite, amor”, que diz: “Na carícia de um beijo/Que ficou no desejo,/ Boa noite, meu grande amor.”

O cortejo fúnebre, o primeiro a usar carro de bombeiros para transportar o defunto, levou duas horas da Câmara do Rio, na Cinelândia, até o Cemitério São João Batista (veja a foto do túmulo, até hoje visitado por fãs). Estima-se que 150 mil pessoas, numa cidade com pouco mais de 2 milhões de habitantes, acompanharam o corpo. O escritor Ruy Castro lembra que seu pai, grande fã de Chico Viola, ao saber pelo rádio na cidade mineira de Caratinga da morte do cantor, passou dois dias em casa e em silêncio:

— Ficou escutando todos os discos do Chico. 

O pesquisador musical Marcelo Froes acha que a comoção se deu pelas circunstâncias da morte, de repente, de forma trágica: “Algo assim ocorreu em 1996 com o desastre aéreo que matou os Mamonas no auge da popularidade da banda.”

Ainda nos anos 1950, dois outros enterros pararam o país — o de Vargas, em 1954, e o de Carmen Miranda, em 1955. Autor da grande biografia da cantora, Ruy Castro lembra que Carmen foi velada também na Câmara do Rio, por dois dias, toda bonita e maquiada:

— Carmen também causou choro lá em casa. Sobretudo, da minha mãe. 

O escritor acha que o enterro de Ayrton Senna, em 1994, já na era da TV, superou todos. Atraiu 500 mil pessoas. Também juntaram multidões cortejos políticos como o do estudante Edson Luís, morto pela ditadura, em 1968, e os dos presidentes JK e Tancredo Neves. Na outra ponta, os de Médici, em 1985, e Geisel, em 1996, só reuniram cem e 200 pessoas, respectivamente.

Mas, na opinião do maior PhD em enterros, o servidor público Jaime Dias Sabino (foto), 83 anos, papagaio de pirata que já segurou a alça de 1.149 caixões, o mais emocionante foi o da Irmã Dulce, na Bahia, em 1992. Que descansem em paz.

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