segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cartas de Londres: Revisitando o Parque Olímpico, por Beatriz Portugal


Londres foi uma cidade diferente durante as Olimpíadas de 2012. Ela é normalmente recatada, um lugar onde as pessoas se apressam para chegar aos seus destinos e raramente trocam palavras ou olhares com desconhecidos. Isso não quer dizer que seja uma cidade fria, mas é certamente menos expansiva do que o Rio de Janeiro, por exemplo.
Durante as Olimpíadas, durante pouco mais de duas semanas Londres se transformou num lugar com uma atmosfera distinta, vibrante e um frisson que permeava suas ruas. Essa sensação era ainda mais explícita no Parque Olímpico, onde espectadores e atletas se encontravam pelas largas avenidas do complexo.
Era comum perceber trocas de sorrisos, acenos, gritos exaltando um ou outro país ou simplesmente gente que se divertia de modo bastante explícito e isso perdurava até nos metrôs e ônibus que traziam ou escoavam o público do parque.
As Olimpíadas passaram, depois vieram os Jogos Paralímpicos e ao final destes o Parque Olímpico foi fechado para obras que duraram quase dois anos. Foram retirados complexos temporários, como os de pólo aquático, de basquete e do hóquei na grama, e o estádio olímpico ainda passa por reformas para se tornar, em 2016, a nova casa do time de futebol West Ham. Mas boa parte do parque reabriu há duas semanas, rebatizado de Parque Olímpico Rainha Elizabeth.


Com a estimativa de que 3 milhões de pessoas visitem o parque este ano, a intenção é que ele se torne um pólo esportivo e de recreação para o leste de Londres, uma área menos abastada nesse quesito.
A questão do legado olímpico é sempre importante e outras sedes não tiveram tanto sucesso nessa fase pós-Jogos. Em Pequim, embora o estádio olímpico continue bastante fotografado por turistas, poucos pagam os oito dólares cobrados para fazer otour interno e outros complexos são pouco utilizados.
A situação é semelhante em Atenas, onde o estádio é usado esporadicamente para alguns eventos, enquanto que seu semelhante em Atlanta está próximo da demolição. A cidade que mais se beneficiou foi Barcelona, que teve uma zona portuária praticamente reconstruída e que se promoveu como destino turístico internacional com os Jogos.
O veredicto sobre o pós-Jogos londrino ainda não é definitivo, mas a julgar pelas multidões que têm visitado o parque desde a abertura, parece que Londres conseguiu criar um espaço atraente e sustentável para a população local, os londrinos e os turistas.
A maioria dos novos aparelhos instalados desde as Olimpíadas é dirigido às crianças e a felicidade delas em explorar as avenidas arborizadas, parquinhos infantis, trilhas e prados era evidente. Os Jogos passaram, mas o espírito daquelas semanas permanece com as crianças que correm pelos caminhos do parque reinaugurado.

Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar.

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