sexta-feira, 26 de julho de 2013

O grito calado dos que foram excluídos dos estádios de futebol


O grito dos ausentes
Laura Medioli (O Tempo)
Desconheço os critérios usados para definir o preço dos ingressos no Mineirão, mas sejam lá quais forem, a meu ver, são equivocados. Ingressos que vão de R$ 100 a R$ 600 e ainda camarotes chegando a R$ 2.000 por pessoa são demasiadamente salgados para o bolso do torcedor. Mas, como torcedores são movidos pela paixão e paixão não tem limite, para eles é preferível se comprometer com dívidas ou deixar de adquirir algum outro bem somente para ter suas entradas garantidas em uma final.
Pagamos por 90 minutos de pânico, descargas de adrenalina, coração acelerado e gritos sem censuras. Pagamos para sair vitoriosos, numa alegria contagiante, ou… na pior das hipóteses, para sair cabisbaixos, mudos, sem rumo e sem vontade de nada, afinal, o mundo acabara de cair!!!
Pois é, sou daquelas que pagam pra ver. Espero, sinceramente, sair enlouquecida, gritando a plenos pulmões o que há anos está sufocado dentro de nós, atleticanos: o grito de “campeão”.
Iniciei este texto falando dos preços dos ingressos porque acho uma crueldade negar à grande maioria de nossa torcida a possibilidade de estar no Mineirão. Falo do operário da obra, do zelador do prédio, do gari, da menina da locadora, do caixa do sacolão… Falo do torcedor mais humilde, assalariado, que, por mais que deseje, não consegue arcar com tamanho dispêndio, ou então, movido pela paixão, acaba comprometendo seu orçamento, endividando-se, apenas para estar lá, vendo seu time ganhar ou perder.
Desde os 14 anos frequento o Mineirão. Sinceramente, tenho saudades do tempo em que arquibancadas eram arquibancadas mesmo. Não tão confortáveis feito as atuais cadeiras, mas que nos permitiam uma maior mobilidade e uma maior facilidade para marcar encontros.
“Vou estar atrás do gol do América!”, dizia aos meus amigos. Ou então, “nos encontramos embaixo da charanga!”. Quando chegavam, bastava um empurrãozinho na hora de se sentar e pronto. Nenhum problema, assistíamos todos juntos à partida. Hoje, isso é impossível. As cadeiras são numeradas, o amigo que foi sozinho não consegue mais sentar-se ao seu lado. Isso para não dizer que a capacidade de público pagante reduziu-se à metade. O Mineirão, de 110 mil torcedores, hoje comporta pouco mais de 60 mil.
O QUE O TORCEDOR PREFERE?
E me pergunto: o torcedor prefere ter acesso ao jogo, sentado numa arquibancada de cimento, ou ter que enfrentar filas gigantescas para adquirir (quando consegue) um disputadíssimo lugar nas 60 mil cadeiras disponíveis? Torcedores não ligam pra conforto, o importante é ter seu lugar garantido, seja numa arquibancada, numa geral ou numa cadeira numerada.
A cada ano, percebo a elitização das torcidas, naturalmente, devido aos preços salgados dos ingressos. E aquele torcedor mais simples, folclórico, que tem no time talvez a sua única grande paixão, aquele que grita mais alto, que sabe o hino de trás pra frente, que conhece a escalação de cor, que veste a camisa já surrada, que xinga o juiz sem piedade, que vibra mais, que sofre mais, que torce mais, infelizmente, e contra a sua vontade, vem se distanciando cada vez mais dos gramados.
Sei que jogadores são caros. Para se ter um Ronaldinho, além dos patrocínios, muitos ingressos devem ser vendidos e com valores elevados, pois manter jogadores do nível dos nossos times Atlético e Cruzeiro não é fácil.
Segundo reportagem deste jornal, a renda do jogo entre Atlético e Olimpia foi a maior da história do Mineirão, assim também como a de todos os registros do futebol brasileiro. Todos os ingressos esgotados, apesar do preço. Ótimo! Concordo que dará uma boa ajuda ao orçamento do time, mas, por outro lado, fico pensando: será que vale a pena?

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