domingo, 10 de março de 2013

Dilma, o veto e o voto, por Mary Zaidan



Ninguém em sã consciência poderia criticar redução de impostos, especialmente dos que incidem sobre alimentos. Portanto, acertou a presidente Dilma Rousseff ao desonerar a cesta básica. Aliás, já poderia ter feito. Há apenas seis meses, a mesma Dilma vetou um projeto idêntico de autoria do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).
Nada surpreendente. Seria muito querer que alguém que briga pela paternidade do cadastro básico que permitiu colocar o Bolsa Família em pé entregasse de barato para seus adversários o barateamento da cesta básica.
A isenção, na verdade, só viria em maio. No dia 1º, claro, como manda o figurino de quem hoje só pensa em 2014. Mas o medo do dragão da inflação, que insiste em fazer fumaça, obrigou mudanças de planos. Rapidamente o marqueteiro de plantão fez o anúncio coincidir com a mágica data do Dia Internacional da Mulher para que a primeira mulher presidente proclamasse o alívio nas contas das donas-de-casa.
Tudo sob medida.
O pronunciamento da sexta-feira para propagandear a mesma isenção que vetara há seis meses - 11 minutos em rede de rádio e televisão - aconteceu exatos 36 dias depois de Dilma ocupar o mesmo espaço para anunciar redução na tarifa de energia. Duas redes nacionais em horário nobre em pouco mais de um mês.
Imaginem isso multiplicado por 18 meses, tempo que nos separa das urnas. Nem de longe seus concorrentes conseguirão chegar perto de tal exposição. Muito menos para entregar benesses, algo que Dilma não se cansa de fazer, ainda que com o chapéu alheio – desta vez, e mais uma vez, com um chapéu tucano.


Sem qualquer pudor, Dilma vai repetindo o que aprendeu com o seu padrinho Lula. Mesmo sem cancha, desajeitada, sobe em palanques, fala bobagens.
Corre para ocupar todos os espaços possíveis e, atabalhoadamente, tentar colocar a economia em pé, ainda que a fórceps, ameaçando o futuro próximo. Precisa desesperadamente de algum êxito nessa seara, sem o qual não conseguirá convencer nem mesmo o PT, quanto mais aliados que já namoram o inimigo futuro.
Nos pronunciamentos oficiais, segue à risca o script. Nem se constrange quando diz às mulheres: governo com a mesma responsabilidade que você e o seu marido governam a sua casa, com a mesma sensibilidade e cuidado que vocês devotam à sua família.
Isso dito no momento em que o País exibe baixo crescimento, inflação em alta, obras do PAC empacadas, quando não superfaturadas - basta olhar os canteiros da Transnordestina ou a transposição do Rio São Francisco -, é quase um acinte.
Para o bem do País, felizmente as famílias brasileiras fazem melhor. Na verdade, bem melhor.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan

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