domingo, 3 de março de 2013

Difamar é o negócio


Ricardo Setti

DINHEIRO PÚBLICO -- André Guimarães (à dir.) trabalha no gabinete do   deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara (Fotos: Juliana Knobel /   Frame / Estadão Conteúdo)
DINHEIRO PÚBLICO -- André Guimarães (à dir.) trabalha no gabinete do deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara (Fotos: Juliana Knobel / Frame / Estadão Conteúdo)
Texto de Hugo Marques publicado na edição de VEJA que está nas bancas

DIFAMAR É O NEGÓCIO
Petista que criou rede para denegrir adversários agora vende a tecnologia a prefeituras do partido
São muitas as histórias de anônimos que alcançaram a fama por meio da internet. O petista André Guimarães tem planos ambiciosos nessa direção. Criador da RedePT13, uma organização virtual formada por perfis falsos e blogs apócrifos usados para atacar aqueles que são considerados inimigos do partido, ele já é uma celebridade entre seus pares.
Se é preciso espalhar uma mentira para difamar alguém, Guimarães é acionado. Se for apenas para ridicularizar um oponente, o rapaz conhece todos os caminhos sujos. Na visita da blogueira Yoani Sánchez, ele trabalhou como nunca. A rede postou montagens fotográficas, incentivou os protestos e difundiu um falso dossiê produzido contra ela pela embaixada cubana. O problema é que o “ciberguerrilheiro” petista sustenta sua atividade criminosa com dinheiro público, dinheiro do contribuinte.
André Guimarães é funcionário do Congresso. Está lotado e recebe salário no gabinete do deputado André Vargas, o atual vice-presidente da Câmara e secretário nacional de comunicação do PT. Mas, como dito, o rapaz é ambicioso.
Ele está montando uma espécie de franquia. Quer expandir sua rede de difamação por todo o país. Os alvos, é claro, são os adversários do PT. Os financiadores, como sempre, os cofres públicos. Com as credenciais de homem da cúpula nacional petista, Guimarães está percorrendo municípios do país para oferecer a prefeitos e vereadores seus serviços.
Identificando-se como “consultor de mídias sociais”, ele oferta aos mandatários petistas um pacote, como ele diz, já testado e aprovado: a tecnologia de utilização das ferramentas da internet para desqualificar adversários políticos e espalhar na rede as versões de interesse do cliente. Mas, como nem petista trabalha de graça, o pacote, dependendo da amplitude, custa entre 2.000 e 30.000 reais.
Um dos primeiros interessados na franquia de Guimarães foi o prefeito de Jaciara (MT), Ademir Gaspar, que confirmou as negociações. O rapaz também já esteve em São Bernardo do Campo (SP), Ubatuba (SP) e Vitória da Conquista (BA) — quatro das 635 cidades administradas pelo partido. Um amplo e milionário mercado que pode render bons e lucrativos negócios.
Procurado, o consultor se atrapalhou todo na hora de se explicar. Primeiro, tentou negar que seu trabalho para “melhorar as mídias desse pessoal que tem mandato” seja remunerado. Depois, admitiu que até poderia levar algum dinheiro, mas era coisa pequena, quase um agrado voluntário: “Existe, sim, a possibilidade de quem quiser me pagar eu aceitar”.
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Mais adiante, reconheceu que cobra um valor das prefeituras interessadas: “Se eu for fazer uma consultoria dessas aí, vai ser 2.000 reais por mês”.
Indagado sobre as atividades do subordinado, o deputado André Vargas se disse surpreso: “Ele trabalha comigo, mas eu não sabia disso, não. É informação nova. Vou avaliar”. Outro dia, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, demitiu duas estagiárias do Senado por causa de um comentário, considerado indecoroso, que elas fizeram na internet sobre um rato que apareceu nas dependências do Senado.
André Guimarães não corre esse risco. Em maio, ele será um dos destaques do encontro nacional dos chamados “blogueiros progressistas”, espécie de tropa de elite dos difamadores a serviço do PT. O encontro vai acontecer em Fortaleza.
A lista de atrações do evento reúne desde Lula até o mensaleiro José  Dirceu.

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