quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Carlos Drummond à Presidente Dilma



  CARLOS VIEIRA
Relendo “Passeios na Ilha” em nova edição, da Editora Cosac Naify, São Paulo, 2011, do nosso poeta maior – Carlos Drummond de Andrade, veio à mente, imaginar um conselho à nossa Presidente.
Envolvida inevitavelmente nas turbulências ocorridas com os “políticos” dessa nação, principalmente aqueles de seu Partido, o Julgamento do Mensalão, e claro, também dos outros aliados, Dilma necessita de jogo de cintura para não se envolver demais e comprometer seu anseio de um novo mandato.

Em seu livro de crítica literária – Drummond : Da Rosa do Povo à Rosa das Trevas – premio ANPOLL 2000 de Literatura, Editora Ateliê Editorial, Vagner Camilo escreve um capítulo, “Uma retirada estratégica” para mostrar que o Itabirano Drummond “... jamais tenha chegado a um comprometimento literário de sua poesia em prol de qualquer doutrinação político-partidária. A atitude descompromissada não é, na verdade, assim tão “gratuita”, mas antes fruto de uma “desilusão”, cujas “razões” o autor não chega a especificar, embora seja possível entrevê-las, quando diz caber aos homens procurar suas próprias razões de viver e não aceitar as que lhe são inculcadas como verdadeiras, no que deixa transparecer o ressentimento para com a militância e as imposições partidárias comentadas mais atrás.”

Em ‘Passeios na Ilha”, um dos mais belos textos de sua obra de Prosa, Drummond escreve, logo no início, no capítulo – Subúrbios da calma – uma profunda reflexão sobre a maneira como lidar com as relações humanas, ou seja: uma atitude sábia de estar envolvido mas não fundido com os semelhantes, a ponto de perder a capacidade de discriminação do que é seu e do que é do outro. Em psicanálise, chamamos de “confusão mental” conseqüente a uma “relação de fusão”, por que não dizer, de “paixão desvairada.

A prosa a que me refiro chama-se, “Divagação sobre as ilhas”, e cito textualmente algumas reflexões do Poeta: ”Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha( e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-se a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e direi, a arte do bem viver; uma fuga relativa, e uma não estouvada confraternização.”

“A ilha... marca assim o seu isolamento, e como não tem bocas de fogo nem expedientes astuciosos para rechaçar o estrangeiro, sucede que este isolamento não é inumano. Inumano seria desejar, aqui, dos morros litorâneos, um cataclismo que sovertesse tão amena, repousante, discreta e digna forma natural, inventada para as necessidades do ser no momento exato em que se farta de seus espelhos, amigos como inimigos.”

“...mas será que se procura realmente nas ilhas a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum? ... A ilha dever ser o quantum satis (na medida exata) selvagem, sem bichos superiores à força e ao medo do homem. Mas precisa ter bichos, principalmente os de plumagem gloriosa, com alguns exemplares mais meigos. As cores do cinema enjoam-nos do colorido, e só uma cura de autenticidade nos reconciliará com os nossos olhos doentes.”

“Chega-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que da sua bondade incandescente. ( O Partido), o grifo é meu! Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas – e inúteis – carnificinas.”
No final do texto, Drummond exclama: ”Em geral, não se pedem companheiros, mas cúmplices. E este é o risco da convivência ideológica. Por outro lado, há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer. A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda a parte se busca destruir. Amemos a ilha.”

Presidente Dilma, eis a “a ciência e, direi, a arte do bem viver” que o nosso querido poeta mineiro oferece, num momento de angústia, reflexão e sofrimento com os desgastes intensos nas relações humanas comensais, parasitárias e tendenciosas à uma ideologia suprema da “verdade última”. Conserve-se em sua “ilha”, nem longe do litoral nem tão colada à “fumaça e a graxa do porto”.
Existe um standar de jazz de um grande trombonista, J.J.Jonhson, chamado “Alone Togheter”, sozinho e junto, junto e separado; essa é a capacidade de manter nossa liberdade , o nosso personalismo, o nosso estilo. Não perca o seu modo de ser, seu; nem de partidos nem de ninguém. Faça do Planalto sua Ilha; ame sua ilha e não permite que os “aventureiros do Apocalipse” destruam sua obra, que a cada dia parece ser construída com individualidade, ainda que seja meio ao grupo social. Transforme o “narcisismo” perverso das facções partidárias em “ social(ismo) a serviço de uma nação que crescer mais e, se colocar como um emergente de uma nova ordem econômica e social. Nossos jovens precisam de Esperança!
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

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