quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Síria: ativistas preveem banho de sangue sectário após queda de Assad



  • Integrantes da oposição e simpatizantes estão criando bancos de dados e traçando as diretrizes de uma estrutura interina para governar o país

Incerteza. Membro do Exército Livre da Síria distribui pão para a população em Aleppo: alguns ativistas avaliam que ajuda americana e europeia pode chegar tarde demais Foto: Muzaffar Salman/Reuters
Incerteza. Membro do Exército Livre da Síria distribui pão para a população em Aleppo: alguns ativistas avaliam que ajuda americana e europeia pode chegar tarde demaisMuzaffar Salman/Reuters
WASHINGTON — Planejar o dia depois da esperada queda do presidente sírio, Bashar al-Assad, se tornou uma corrida contra o tempo que muitos defensores de uma Síria democrática e pluralista temem estar perdendo. Em Washington, Istambul e em todo lugar, ativistas da oposição e simpatizantes estão criando bancos de dados e traçando as diretrizes de uma estrutura interina para governar a Síria até que algo mais permanente possa tomar seu lugar.
Mas mesmo os que trabalham nisso duvidam que vão servir como mais do que sugestões para a atmosfera pós-Assad, a qual preveem que será caracterizada, na melhor das hipóteses, por conflito e caos. No pior cenário, por um banho de sangue sectário e uma possível tomada de poder de combatentes extremistas ao lado das forças militares rebeldes.
Muitos ativistas sírios avaliam que os EUA e a Europa aumentaram os desafios ao proibir interações com a oposição armada no país enquanto Assad ainda estiver no poder.
— O que realmente precisamos é trabalhar com os líderes mais proeminentes e moderados no Exército Livre da Síria para torná-los líderes nacionais — disse Rami Nakhla, diretor-executivo da organização baseada em Istambul Dia Seguinte, que fornece suporte técnico para a Coalizão Síria de Oposição, apoiada pelos EUA.
Corações e mentes
Outros dizem que a ajuda para reconstrução após a queda de Assad chegará tarde demais para conquistar corações e mentes sírios.
— Mesmo pessoas de mentalidade secular que reconhecem que os jihadistas são uma ameaça potencial dizem que eles são as únicas pessoas que os ajudaram — disse Tom Malinowski, diretor da Human Rights Watch.
Sem um mandato internacional das Nações Unidas ou aprovação do Congresso, os EUA não têm base para ajudar ou interagir com os rebeldes sírios, sob a avaliação legal na qual o governo baseia sua política. Mesmo sem fundação legal, o governo deixou claro que acredita que somar-se ao combate em terra na Síria só iria piorar as coisas. A única “linha vermelha” que pode provocar intervenção, disse o presidente Barack Obama, é o uso de armas químicas da Síria.
Um dos principais esforços para guiar a Síria foi um projeto lançado pelo Instituto de Paz dos EUA, financiado pelo Congresso. Durante seis meses, o instituto reuniu dezenas de sírios, que em agosto lançaram o relatório “Dia Seguinte”, com desafios e recomendações para sistemas eleitorais e judiciais e uma política de reestruturação econômica e social.
— Cada vila, cada cidade, terá que lidar com as pessoas que apoiaram o regime, que cometeram crimes. O que podemos fazer é apresentar a elas uma série de princípios... aqui está o que a ONU diz, o que sul-africanos fizeram — disse Steven Heydemann, chefe do projeto. — O trabalho precisa ser entendido como um esforço para evitar o pior cenário, não como um esforço para desenvolver estruturas ideais que permitirão à Síria fazer a transição imediatamente.
A única previsão apocalíptica de Nakhla é que os poderosos elementos armados, incluindo extremistas, vão procurar um novo inimigo para reter seu poder depois de derrotarem Assad e devem mirar no vizinho Israel.
Complicado de um jeito ou de outro
O Ocidente vai inevitavelmente se opor a eles, e “o povo sírio vai começar a ver a comunidade internacional como inimiga”, disse Nakhla.
Frederic C. Hof, que atuou como conselheiro especial do Departamento de Estado na transição síria até setembro e é agora pesquisador do Atlantic Council, está menos pessimista, mas igualmente certo de que o fim de jogo na Síria está se aproximando.
O governo Obama, disse Hof, deveria se preparar para uma jornada difícil no pós-Assad:
— Os EUA e seus aliados não vão gostar sempre das decisões. Não controlamos o momento de tudo aqui. Esta é uma revolução síria. Num mundo ideal, seria uma transição fácil, o regime cai, a oposição se esgueira com as estruturas existentes e faz funcionar. Mas será complicado, para dizer o mínimo, de um jeito ou de outro.


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