domingo, 4 de novembro de 2012

Mais lembranças do guerreiro Francisco Alexandria, que enfrentava ACM na Bahia



Hugo Gomes de Almeida
Francisco Alexandria era muito bem relacionado, principalmente em meio de idealistas e lutadores de todas as regiões deste país continental. Alguns deles, em tempos idos, quando visitavam a capital baiana, hospedavam-se em sua residência e eram tratados com o calor humano próprio dos seres magnânimos.
 Alexandria, um jornalista sem igual
Com o bravo idealista travamos relacionamento, ao ser por ele procurado no local de trabalho, quando essa proximidade era perigosa, a ponto de certas pessoas mudarem o trajeto quando o distinguiam de longe. Nem tudo, porém, transluziu maus exemplos. Havia pessoas — poucas evidentemente — que, movidas por admiração, sempre procuravam aproximar-se do vertical paladino das causas da cidadania, do homem mais perseguido pelo poder arbitrário na Bahia e que do estrênuo sonhador por um mundo melhor guardam as mais enternecidas lembranças.
Foi nessa época de perseguição mais violenta que aquele vulto destemido sofreu um atentado a tiros no sertão baiano, quando pereceu o companheiro de viagem e o automóvel novo fora destroçado pela virulência das balas.
Alexandria, quando forrado de numerário, convidava os amigos para almoços em restaurantes e, nesse dia, não abria mão de pagar para quantos se formassem à sua roda. Se alguém estivesse necessitando de ajuda financeira, desvelava-se em cumprir o dever filantrópico.
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UM SR. ADVOGADO
Nessas minhas lembranças do homem intimorato, de que tanto nos envaidecemos da amizade e confiança, vem-nos à memória um marco da altaneira conduta da parte de seu advogado. Revelou-se este inexcedível em abnegação ao defendê-lo em comarcas espalhadas pelas lonjuras do interior da Bahia. Alexandria, além de sofrer as cruéis represálias do representante-mor da ditadura no estado, era alvo de perversa perseguição de integrantes da classe política, somente preocupados com agradar o chefe.
Esse advogado, modelar pela honradez, coragem e preparo jurídico, tornou-se há quatro ou cinco anos, desembargador, pelo quinto constitucional, do Tribunal de Justiça da Bahia. Seu nome: Lourival Trindade.
No decurso desses poucos anos tornou-se magistrado respeitadíssimo! Quando Lourival Trindade foi alçado ao reportado colegiado, recordamo-nos de que Alexandria já houvera pronunciado, perante mim, o nome de seu patrono forense, com reverência e respeito. À vista dessa recordação, pedimos a uma amiga, procuradora de Justiça, que perguntasse ao novel desembargador se fora advogado de Alexandria.
A esclarecedora resposta traduziu uma homenagem ao grande morto: “fui, não somente seu advogado, mas amigo incondicional até o fim”! À oportunidade, Lourival Trindade esclareceu como conhecera Francisco Alexandria. Em determinada comarca sertaneja, o juiz nomeou-lhe advogado do guerreiro perseguido em determinada audiência.
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INJUSTIÇA
Ao ler os autos, o devotado profissional apaixonou-se pela causa, ao perceber a monstruosa injustiça da acusação. Daí nascera o imorredouro relacionamento de fraternidade entre advogado e cliente. Lourival Trindade aceitou defendê-lo em todos os processos.
Fizemos questão de trazer ao conhecimento dos leitores essa página indelével de rara solidariedade a um grande idealista nos mais sofridos instantes de desventura. É bom mencionar que essa perigosa advocacia naqueles dias trevosos, em comarcas da hinterlândia, povoada de puxa-sacos, jamais rendeu um centavo de honorários a quem, com tanto desvelo, a protagonizou.
Grande gesto como esse precisa ser dado à publicidade, precisa ser lembrado como exemplo às novas gerações, nesse mundo em que o interesse argentário atinge culminâncias.

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