sábado, 25 de agosto de 2012

O maior castigo, por Zuenir Ventura


POLÍTICA


Zuenir Ventura, O Globo
Ao declarar na televisão seu apoio a um candidato a prefeito do Rio, Chico Buarque afirmou: “Há muito tempo não me empolgava tanto com uma eleição no Rio de Janeiro.”
Não consigo, porém, compartilhar desse entusiasmo — eu e muita gente que conheço. E isso não é bom para a democracia. Dizem que a campanha só começa depois da propaganda pelo rádio e pela TV e que, portanto, ainda é cedo para julgar, já que ela mal começou. Mas, pela amostragem inicial, é possível descobrir algumas causas desse desinteresse.
Primeiro, o formato dos programas, pouco atraentes e de pouca credibilidade, porque baseados em testemunhos previsíveis (o que não é o caso do compositor) e promessas duvidosas dos candidatos.
Seria mais interessante se, em vez do “vou fazer”, se ouvisse o como fazer, isto é, propostas concretas e factíveis, compromissos de fato. Existem, porém, razões mais graves para a falta de empolgação com as eleições no Rio e em outros lugares.
Elas residem no descrédito crescente da população em relação à prática política vigente. Os últimos acontecimentos — os escândalos do Cachoeira e do mensalão — contribuem para aumentar a sensação generalizada de que “não tem jeito”, de que a corrupção é incontrolável e, pior, de que a impunidade, por ser a norma, criou uma cultura do cinismo e do escárnio.
O exemplo mais recente é o da candidata à prefeitura de Porto Seguro, Cláudia Oliveira, que aparece em um vídeo simulando um discurso em que fala da possível construção de uma ponte de R$ 2 bilhões: “Com um bilhão, eu fico.” Era uma brincadeira, mas com ares de verdade, já que desvio de verbas é uma prática corriqueira na administração pública.
Ainda bem que nem tudo está perdido. A decisão de obrigar o senador cassado Luiz Estevão a devolver à União R$ 468 milhões (em 97 módicas prestações) é uma boa notícia, embora a quantia não seja nem metade do total de que se apropriou e que, durante os 13 anos que separam o crime da condenação, ele pode ter dobrado o valor desse capital com aplicações financeiras.
De qualquer maneira, é um caso inédito. Mas, para que não constitua apenas uma exceção, será preciso que o Supremo adote o princípio e que os culpados do mensalão, além da eventual punição, sejam obrigados a restituir aos cofres públicos os milhões desviados em tenebrosas transações. Aí, sim, vai empolgar.
O que um corrupto mais teme como castigo não é ser preso, mas perder a grana que roubou.

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