Depois daquela primeira viagem à Europa, Hopper ainda lá voltou em 1910. E depois disso nunca mais. Mas há inúmeros depoimentos dele comentando que se a efervescência parisiense não o afetou, a História impregnada nas ruas, monumentos e museus que visitou em algumas capitais, foram fundamentais em sua formação.
Estudara literatura francesa e russa ainda em casa dos pais, lia muito e amava o teatro. A paixão pela poesia francesa foi uma constante em sua vida. Certa tarde, ao citar Verlaine no original e descobrir que sua futura mulher completava o verso, foi por ele descrita muitas vezes como fundamental na decisão de unir sua vida à dela.
Tempos depois ele diria que ao regressar da Europa ao seu país este lhe parecera extremamente cru e tosco. “Levei anos para superar essa sensação”. Sua pintura às vezes trazia reminiscências do que ele vira no exterior.
Nas décadas de 30 e 40 a vastidão das áreas rurais americanas, as grandes expansões de terra, as estradas que pareciam infindáveis, as pequenas cidades isoladas e desoladas, foram um manancial de ideias para os grandes escritores, cineastas e pintores.
Hopper não escapou dessa atração. Viajava muito, com sua Jo, e viveu as emoções e as decepções do viajante que viaja a esmo, sem ter destino certo. Viajar por viajar, sair, buscar nova vida já que a antiga parecia morta.
O mar sempre foi importante para ele. Passou quase todos os verões de sua vida à beira mar, sobretudo no litoral do Maine. Sua personalidade se impunha aos temas: reparem na composição que faz com a estação da Guarda Costeira (foto acima), o mar tranquilo, o dia límpido, mas não obstante o ambiente sugere possibilidades de perigo e resgate do oceano.
Apesar da intimidade com o lugar, foi só depois do casamento, encorajado por Jo, que Edward começou a pintar marinhas.
Lutou muito contra o tédio, foi uma batalha constante. Essa sensação angustiante abafava sua vontade de pintar e era isso que ele queria combater. Por isso estava sempre em movimento – sua busca por inspiração era menos dolorosa em novos e diferentes ambientes. Como muito depois ele explicou a um crítico:
Para mim, a coisa mais importante é a sensação de estar indo em frente. Você percebe como são bonitas as coisas quando está viajando.
Mas ao que parece, sua angústia o acompanhava... ou essa não é uma visão do tédio?
Guarda Costeira, Maine, aquarela, guache e carvão sobre papel, 35.2 x 50.5cm, 1927- MET, NYQuarto de Hotel, óleo sobre tela, 150 x 162.5cm, 1931 - Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid
Nenhum comentário:
Postar um comentário