sábado, 2 de junho de 2012

O mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório confirmou que a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono


Augusto Nunes
Neste sábado, os leitores de VEJA foram confrontados com informações que renovam o prazo de validade da lição de Tancredo Neves: a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono. Provas documentais obtidas pela revista atestam que os arquitetos da CPI do Cachoeira, concebida para embaralhar o julgamento do mensalão, montaram uma lista de alvos prioritários que incluiu, entre outros, o ministro Gilmar Mendes, o procurador-geral Roberto Gurgel e jornalistas independentes. Ruins de mira, os artilheiros trapalhões acabaram acertando o próprio pé ou a testa de bandidos de estimação.
Depois da quebra do sigilo bancário e fiscal da Construtora Delta, o que deveria ser uma devassa restrita ao estado de Goiás escapou do controle dos parteiros malandros. A cachoeira de patifarias vai se mostrando suficientemente caudalosa para alcançar pecadores em qualquer ponto do país ─ e provocar estragos de bom tamanho no coração do poder. No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, o Brasil foi confrontado com mais evidências veementes de que o empreiteiro Fernando Cavendish utilizou empresas fantasmas, “laranjas” e notas frias para justificar a saída de dinheiro destinado a figurões incumbidos de ampliar a coleção de contratos multimilionários com o PAC, empresas estatais, ministérios e governos estaduais.
Cavendish valeu-se desses truques criminosos para alugar, por exemplo, os serviços de “consultoria” do mensaleiro José Dirceu, escalado para aumentar a fatia reservada à Delta entre os fornecedores da Petrobras e multiplicar os canteiros de obras públicas explorados pelo melhor amigo de Sérgio Cabral. Dirceu, uma usina de ideias de jerico, foi um dos mais vibrantes defensores da instauração da CPI. Não vai dormir por alguns dias. Talvez o console a certeza de que é só mais um na multidão de companheiros afetados pela epidemia de insônia.

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