quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Lua minguante - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 18/02

Ontem foi dia de novas quedas na confiança na economia brasileira. Essa confiança vem se deteriorando rapidamente tanto no setor financeiro quanto entre os empresários. O preocupante não é a projeção feita pelos bancos, mas a expectativa das empresas. Sendo baixa, não há investimento, e a profecia se cumpre. Um dos fatores desse fenômeno é o temor em relação à energia.

Aprojeção para o PIB feita por bancos consultados pelo Banco Central caiu novamente para este ano e o próximo, e aumentou a estimativa para a inflação. No setor produtivo, a CNI divulgou queda pelo terceiro mês consecutivo do índice de confiança dos empresários. A indústria extrativa mineral é a mais pessimista, e o segundo setor com visão mais negativa é justamente o que foi mais ajudado pela política econômica recente, o automobilístico.

O Boletim Focus divulgado ontem pelo BC mostrou nova redução das projeções para o PIB deste ano e do ano que vem. Caiu para 1,79% a estimativa de 2014 e para 2,1% a de 2015.O que chama atenção é a forte deterioração dos números. O mercado já chegou a prever que o país cresceria 3,8% em 2014, segundo projeção feita em janeiro de 2013. Em maio, achava que seria 3,5% e em nove meses essa mediana foi para menos de 1,8%. Vários formadores de opinião estão apontando para números mais baixos, próximos de 1,5%. A taxa vem minguando pelas sucessivas decepções com a política econômica e com o desempenho da economia, principalmente da indústria. O número para a produção industrial deste ano já foi de 3,9% e agora está em 1,93%.

A questão é que a confiança não está em baixa apenas no setor financeiro. Ontem, a CNI divulgou que houve queda, em fevereiro, pelo terceiro mês consecutivo do Índice de Confiança do Empresário Industrial. O índice caiu para 52,4 pontos e se distanciou da média histórica, de 58,2 pontos. A perda foi maior entre as grandes empresas e oitos setores estão com a
confiança abaixo de 50 pontos, o que indica sentimento de recessão.

Chama atenção a forte perda do setor automobilístico, que já é o mais pessimista entre todos da indústria de transformação e só ganha da extrativa mineral. Seu índice, que media 59,4 pontos em fevereiro de 2013, desabou para 46,5 pontos. A crise na Argentina é um dos motivos para essa piora, porque grande parte da exportação de carros vai para lá. Ontem, o MDIC também informou que a balança comercial ficou mais deficitária no ano: US$ 6 bilhões.

Outra fonte de problemas é o suprimento de energia. A situação dos reservatórios de água continua crítica, mesmo com as chuvas do final de semana. O ONS informou que o nível no sistema Sudeste/Centro-Oeste caiu para 35,54% no domingo. Ao mesmo tempo, como mostrou o “Valor Econômico”, surgem dúvidas sobre a sustentabilidade do uso das termelétricas, que estão operando em carga máxima já por muito tempo.

É difícil combater esse sentimento de desânimo apenas com palavras, ou mesmo a criação de um fórum empresarial, como está sendo pensado na Presidência. Ao contrário do que o governo acredita, não basta uma DR, usando a expressão do ministro Paulo Bernardo, referindo-se à ideia de “discutir a relação”.

Não se chegou a esse ponto de uma hora para outra. Foi o resultado de vários erros, como a intervenção e erros gerenciais no setor de energia, a manipulação de preços públicos, que faz temer aumento futuro da inflação e a situação da maior empresa do país, a dificuldade de conclusão de obras iniciadas. São muitos os elementos que levam às projeções declinantes.

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