quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Carência de investimentos ameaça mercado de gás - UEZE ZAHRAN


CORREIO BRAZILIENSE - 18/02
O GLP, popularmente conhecido como gás de cozinha, tem enfrentado uma série de percalços motivados pela carência de recursos destinados ao investimento na cadeia de produção, comercialização e distribuição. Uma das principais vulnerabilidades desse mercado é a revenda multibandeiras, que pode vender botijões de várias marcas. Perder o rastro na hora da comercialização abre espaço para a pirataria e para a predação de preços, o que fragiliza o produto final.
 A intenção da regulamentação foi baratear o custo para o consumidor, mas a experiência mostra que isso não acontece. De acordo com dados da ANP, enquanto a margem das revendas cresceu mais de 137% nos últimos 10 anos, quando foi implantado o sistema multibandeiras, a das distribuidoras cresceu cerca de 70%, praticamente metade.

A margem nem sequer acompanhou a inflação do período, que, de acordo com o IPCA, foi de 80%. Entre janeiro de 2003 e agosto de 2013, o valor do produto ao consumidor subiu quase 40%. As companhias precisam ter margem para reinvestir no próprio negócio e, principalmente, na segurança do consumidor. Porém, os custos das distribuidoras com mão de obra, transporte e requalificação (teste nos botijões para evitar vazamentos) só aumentaram. A cada 10 anos de uso, os botijões precisam ser testados.
Os aprovados continuam no mercado para mais uma década. Os reprovados são sucateados e substituídos por novos. Desde que foi implantada no Brasil, em 1997, depois de mais de 20 anos de luta, a requalificação fez que o número de acidentes com botijões diminuísse drasticamente.
De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), até julho do ano passado, foram testados cerca de 150 milhões de vasilhames, dos quais mais de 25 milhões foram descartados. A operação, segundo o órgão, consumiu investimento de mais de R$ 8 bilhões das distribuidoras. Existe ainda a necessidade de recursos para investimento em automação de processos produtivos e melhoria de condições nas plantas de engarrafamento das empresas, o que acontece em várias partes do mundo. No caso, mais importante que a otimização do sistema é a saúde dos trabalhadores.

Os problemas vão além das questões operacionais e regulatórias do setor. No tocante às distribuidoras, o core business está justamente na entrega do gás em milhares de domicílios pelo Brasil. Por isso, a questão logística possui impacto relevante no orçamento das companhias (cerca de 25%), perdendo apenas para a de mão de obra.

Para piorar a situação, a malha viária é hoje um dos grandes gargalos de infraestrutura do país. Em cinco anos, a alta nas despesas com o transporte do gás está 40% maior. Alternativa que daria mais eficiência, segurança e mitigaria impactos financeiros, bem como ambientais, seria a construção de uma separadora no Centro-Oeste, há anos reivindicada.

O Brasil conta hoje com 42 separadoras, porém nenhuma nesta região. O crescimento da economia trouxe consigo nova onda de demandas: aumento do poder de compra da população, alta no consumo e surgimento de novos mercados. Para que essa engrenagem funcione bem, está mais do que na hora de as políticas públicas e regulamentações serem revistas. O consumidor e toda a cadeia que envolve as empresas do setor de GLP agradecem.

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