domingo, 14 de abril de 2013

A grande farra dos políticos


Antônio de Faria Lopes

Há uma estranha tendência de se apresentarem soluções parciais, às vezes simplórias, como um grande achado para resolver todos os males do nosso sistema político-eleitoral. A redução drástica do número de partidos existentes é uma delas.
Não seria melhor que se pensasse numa mudança radical que transformasse os partidos políticos em verdadeiros representantes das tendências e das aspirações da sociedade para que o povo, através do voto, se transformasse no verdadeiro dono do poder? Que diferença faz se hoje eles são 30 e amanhã serão 50?
Se todos são iguais, se representam apenas interesses de pequenos grupos que disputam o poder somente para dele se servirem, se têm donos, se não passam de balcões de negócios, se não praticam nem sequer a democracia interna, como poderão se arvorar em instrumentos de sua prática? Que diferença faz a quantidade deles? Agora mesmo estamos assistindo à criação de mais um ministério – falta um para termos 40 – e a designação de um ministro filiado a um partido que foi afastado do poder em virtude das “maracutaias” que cometeu no mesmo ministério.
LOTEAMENTO DO PODER
É o “presidencialismo de coalizão” que vai loteando, aparelhando e criando novos cargos públicos para garantir sua permanência no poder. Criar partidos é indispensável para participar do loteamento do poder, das comissões que as obras públicas possibilitam, dos contratos de consultoria quando são substituídos nos cargos públicos, das viagens e das festas, do acesso à mídia, da propaganda eleitoral gratuita, do Fundo Partidário, da grande farra às nossas custas.
Uma parte da população defende uma reforma política de profundidade que mude paradigmas, que convoque o povo a uma grande discussão sobre qual o melhor sistema de representação, aquele que impeça a transformação da política numa profissão de esperteza vitalícia, que não faça da impunidade um estímulo permanente a toda sorte de crimes, especialmente o de corrupção. É claro que uma reforma que aborde minimamente essas ideias não interessa à maioria do Congresso Nacional nem aos donos dos partidos.
O que eles querem é mais dinheiro para o Fundo Partidário, para o financiamento público das campanhas eleitorais e o voto nas listas que eles vão fazer e na ordem que lhes derem mais vantagens. Roger Garaudy já dizia que não existem partidos verdadeiramente democráticos. No Brasil, a maioria deles é dirigida por “comissões provisórias” nomeadas por seus donos. Em vez de querer limitar o número de partidos, não seria melhor proibir as coligações, acabar com o Fundo Partidário, com o voto obrigatório e com a chatice da propaganda gratuita?
(transcrito do jornal O Tempo)

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