sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - ARQUITETURA Oscar Niemeyer - 'Fiz do meu jeito' (My Way)


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
7.12.2012
 | 12h00m
Passa das 5 da manhã e eu ainda não sei o que dizer hoje, aqui. Não tenho o que dizer que vocês já não tenham lido em jornais ou na Internet ou assistido na TV.
Leio coisas interessantes: que ele adorava o Sinatra e especialmente My Way. E que tocava cavaquinho. Sabia que ele gostava de reuniões com amigos e música, de bossa nova e samba. Que foi dele o cenário do musical Orfeu da Conceição, música de Tom Jobim, poesia de Vinícius de Moraes e cenário do Niemeyer!
Vamos por a cuca pra trabalhar. Você conhece algum outro caso parecido: três “monstros” em suas respectivas áreas assinando um musical? Desculpem, sou uma das privilegiadas que assistiram Orfeu no Municipal. Ser velha tem algumas vantagens...


Escolho as obras que ainda não mostrei aqui e que falam muito de perto ao meu coração. E as frases desse pensador admirável. E dois textos. Um assinado pelo Vinícius que acabara de ler um desabafo do Niemeyer sobre críticas à sua Brasília e o poetinha consola o amigo:
"Por isso, meu caro Oscar, não ligue demais aos seus detratores. A maioria deles são pintas ultramanjadas. Há, como você muito bem diz, aqueles "a quem falta uma concepção mais realista da vida, que os situe dentro da fragilidade das coisas, tornando-os mais simples, humanos e desprendidos".
E a esses, como você muito bem faz, cabe "compreendê-los sem ressentimentos". Mas há também, e infelizmente, os velhacos, os trapaceiros, os provocadores, os policiais. Com esses, é preciso ter mais cuidado. Pois eles estão aí, e partidos para a ignorância. ("Oscar Niemeyer", Vinícius de Moraes)"

O outro é um trecho de uma entrevista dada pelo nosso arquiteto ao então correspondente do The Guardian sobre Arquitetura e Design:
"Pego minha caneta, surge um edifício"
"- Claro que já dei aos meus engenheiros muita dor de cabeça ao longo dos anos, mas eles me acompanham. Sempre quis que minhas construções fossem o mais leve possível, que tocassem o solo gentilmente, que surgissem e planassem e surpreendessem. Arquitetura é invenção. Deve oferecer prazer tanto quanto funcionalidade.
- Se você só se preocupar com a função, o resultado é horrível. Muitas de minhas obras foram monumentos cívicos e políticos, mas talvez alguns tenham dado ao homem comum, ao homem sem poder, uma sensação de prazer. É isso que os arquitetos podem fazer. Mais nada".
Foto: Vanderlei Almeida/AFP/Getty Images

Quando revisitei o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói (acima), vi claramente isso: o prazer que as pessoas têm em tirar fotos ao lado do MAC, as crianças correm felizes aquela rampa, de braços abertos como se fossem abraçar o prédio diferente, e acolhedor. Uma obra de arte, mas bastante próxima de um desenho dos Jetsons.
Visito o Museu Nacional de Brasília (Museu Nacional Honestino Guimarães) (abaixo), das últimas obras do artista, tem uma cúpula com um vão de 80 m e uma passarela elevada que o envolve por fora e o penetra serpenteando.

Foto:Imge Broker/Rex Features
Como conceito é magnífico, embora o museu ainda não seja bem um museu...Jonathan Glancey The Guardian 1/8/2007
****
Casa das Canoas (hoje Fundação Oscar Niemeyer)
Tantos anos passados... E minha mulher, que levanta sempre muito cedo, volta para a cama do lado esperando dar 8:30 para me acordar. Muitas vezes finjo que estou dormindo só para ela ter o prazer de me acordar dizendo: - Oscarzinho, são oito e meia!
Foto: Haywood Magee/Getty Images - 1950
*****

Museu Oscar Niemeyer (Museu do Olho) Curitiba, Paraná

Oscar Niemeyer pensador:
Acho muito bom a pessoa se recolher e ficar pensando em si mesma, conversando com esse ser que tem dentro dela, que é nosso sósia, né? Eu converso com ele a vida inteira.
*Fiz o que quis. Juscelino Kubitschek nunca me disse para projetar cúpulas no Congresso, rampa no Planalto, parlatório - Até que ficou direitinho. Se não houvesse parlatório, os presidentes ficariam acenando para o povo de uma janela, como se fossem papas. Seria ridículo.
**Lembro-me da noite em que Fidel esteve em meu escritório. Convidei amigos e, à meia-noite, quando ele ia embora, o elevador enguiçou. Para pegar o outro, ele teve de passar pelo apartamento de um vizinho, que até hoje conta essa ocorrência com certo orgulho. Dá para imaginar o susto do casal ao abrir a porta e dar de cara com o Fidel? O único comunista que mora nesse prédio sou eu. Mas, quando Fidel saiu, o edifício todo estava iluminado e o pessoal batendo palmas. Dizem que é preciso a noite para surgir o dia, e foi isso que aconteceu com Cuba.
***Os caminhões de operários vinham de toda parte do Brasil querendo colaborar, pensando que iam encontrar a terra da promissão, e estão lá nas cidades satélites, tão pobres quanto antes. Não basta fazer uma cidade moderna; é preciso mudar a sociedade. Isso é que é importante.
****Sempre que viajava de carro para Brasília, minha distração era olhar para as nuvens do céu. Quantas coisas inesperadas elas sugerem! Às vezes são catedrais enormes e misteriosas - as catedrais de Exupéry com certeza. Outras, guerreiros terríveis, carros romanos a cavalgarem pelos ares. Outras, ainda, monstros desconhecidos a correrem pelos ventos em louca disparada e, mais freqüentemente, lindas e vaporosas mulheres recostadas nas nuvens, a sorrirem para mim dos espaços infinitos.
*****Nossa passagem pela vida é rápida. Cada um vem, conta sua história, vai embora e depois ela será apagada para sempre. A vida continua.
******Existem apenas dois segredos para manter a lucidez na minha idade: o primeiro é manter a memória em dia. O segundo eu não me lembro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário