sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Querem melar



Sebastião Nery
RIO – O general Otávio Costa era comandante da 6ª Região Militar da Bahia. Estava em Sergipe, no fim de semana, visitando a cidade histórica de Laranjeiras, terra dos dois históricos jornalistas Paulo e Joel Silveira. Sábado, recebeu um telefonema urgente de Brasília. Era o general Medeiros; chefe do SNI, que acabava de assumir seu posto no Planalto:
- General, segunda-feira o professor Abdias do Nascimento, líder negro, que está chegando dos Estados Unidos, vai fazer uma palestra no Centro Cultural Brasil-Alemanha, em Salvador, e lançar o Movimento de Libertação da Raça Negra. A ordem é melar.
 Abdias do Nasc imento
O general Otávio Costa sabia que o Centro Cultural Brasil-Alemanha ficava em um local pequeno, apertado, movimentado. Tentar melar seria exatamente promover. Ligou para Salvador, mandou um sargento negro, do Serviço Secreto, com a ordem de telefonar urgente, se necessário.
Segunda, 10 da manhã, Abdias abria sua conferência no Centro Cultural Brasil-Alemanha apinhado de escritores, professores, estudantes, intelectuais. Todos brancos. Lá no fundo, de pé, um negro.Abdias chamou : – Quero começar prestando uma homenagem a meus irmãos de cor. Convido meu irmão negro, que está lá no fundo, a presidir esta solenidade.
O sargento presidiu até o fim, com inteira competência. Sem melar.
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1,2 TRILHÃO
A aristocracia brasileira do dinheiro ocupa o 4º lugar no mundo com depósitos em paraísos fiscais. Os supermilionários nativos têm US$ 520 bilhões (R$ 1,2 trilhão) aplicados em contas secretas. À sua frente estão os chineses com US$ 1,18 trilhão, os russos com US$ 798 bilhões e os sul-coreanos com US$ 779 bilhões. Esses números, publicados pelo jornal inglês “The Observer”, estão em estudo da “Tax Justice Network” (Rede pela Justiça Fiscal). A fonte são documentos do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Banco de Compensações Internacionais, o Banco Central mundial. O professor Helio Duque, meu mentor econômico, me ensina mais :
1 – O economista norte americano James Henry, um dos coordenadores do estudo, afirma: “O setor offshore é desenhado e operado não por obscuros bancos sem nome em ilhas suntuosas, mas pelos maiores bancos privados do mundo, escritórios de direito e de contabilidade sediados em capitais como Londres, Nova York e Genebra!”.
2. – “Os 50 maiores bancos do mundo são os alimentadores dos paraísos fiscais, com destaque para o Goldman Sachs e os suíços União dos Bancos Suiços e o Credit Suisse. A elite financeira mundial é constituída por 100 mil milionários detentores de trilhões de dólares aplicados além das fronteiras nacionais. Grande parte desse dinheiro é fruto da corrupção”.
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36 COM 151
3. – O pesquisador Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, disse no Globo que o Brasil tem 36 pessoas neste grupo seleto. Juntos, controlam US$ 151 bilhões. Nada mal para uma nação emergente. Quando se fala em taxar essas colossais fortunas ou acabar com as jurisdições secretas, os novos aristocratas ameaçam sair do pais, melar. Os governos encolhem-se. Na base da pirâmide as pessoas comuns ralam e pagam a conta. Até quando? Em 2011, a arrecadação federal brasileira foi de R$ 993 bilhões. Já o dinheiro expatriado, de brasileiros, nos paraísos fiscais sonegadores, representa R$ 1,2 trilhão.Imagine o efeito para o desenvolvimento nacional se parte desses recursos pudesse ser repatriada..
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MANTEGA
Há alguns anos, o governo analisou a hipótese da aprovação de uma anistia fiscal repatriadora desses capitais, um tema polêmico e provocador de debates que enveredam pela ética e envolvem recursos financeiros de procedência, em alguns casos, ilícita, frutos da corrupção e desvio de recursos públicos. As resistências transformaram-se em intransponíveis barreiras. A primeira chantagem é tirar empresas do pais Ameaçam melar. Uma parte dos milionários recursos aplicados nos paraísos fiscais tem declaração do Imposto de Renda. Para repatriação o tributo seria de 27,5%. O Ministério da Fazenda imaginou anistia que cobraria uma “taxa pedágio” variável, de 4% a 6% do IR.
Com a ascensão do italiano Guido Mantega ao Ministério da Fazenda, o tema foi jogado às calendas gregas.
sebastiaonery@ig.com.br

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