sábado, 8 de setembro de 2012

Enquanto os grandes da América Latina empacam, o pequeno Panamá está bombando e cresce 10% ao ano



Economia em ebulição: vista aérea da capital, Cidade do Panamá, com o recém-inaugurado Hotel Trump (em forma de vela) à esquerda, maior torre da América Latina (Foto: Gobierno de Panamá) 
O Brasil está às voltas com o chamado “PIBinho” — crescimento insuficiente do Produto Interno Bruto, que tem feito a presidente Dilma Rousseff promover uma virada ideológica e partir para privatizações e parcerias com a iniciativa privada.
O governo de Cristina Kirchner na Argentina mente sobre a inflação, promove crescimento artificial às custas dos cofres públicos e vê o capital estrangeiro sair correndo do país, ao som do tique-taque da bomba relógio que, cedo ou tarde, vai explodir. O México, outro grande latino-americano, está em compasso de espera diante da titubeante volta do vigor da economia de seu gigantesco vizinho e principal parceiro comercial, os Estados Unidos.
Nesse quadro de pasmaceira na América Latina, o pequeno Panamá é a grande exceção: um espetacular crescimento de 10% ao ano e uma dívida de somente 2,5 % do PIB que o digam. Com crise mundial e tudo, o FMI espera que o país cresça a uma média de 6% ao ano até 2016.
Dessa forma, essa ex-colônia espanhola que já fez parte da Colômbia está a anos-luz de distância de vários de seus vizinhos. A lista abrange desde o caudilhismo populista ou simplesmente ditatorial de Venezuela, Nicarágua ou Cuba até a pobreza extrema do Haiti, passando pelos recordistas e assustadores índices de criminalidade de Guatemala ou Honduras.
O canal
Parte do bom momento, como não poderia deixar de ser, se justifica pela atividade no Canal do Panamá, cujos 82 quilômetros de extensão garantem a importantíssima conexão dos oceanos Pacífico e Atlântico. Antes de sua inauguração, em 1914, navios cargueiros e petroleiros precisavam dar uma volta de 14 mil quilômetros, pelo Cabo de Horn, ponta sul do Chile, para ir de um ao outro oceano.
Construído por engenheiros da França e dos Estados Unidos – que comprou a concessão por sua posse em 1904 e assumiu a obra -, o canal já deu passagem a mais de 1 milhão de navios até hoje.

Canal-Panamá-abertura
Imagem da abertura do canal, em 1904 (Foto: canalmuseum.com)
Foi devolvido definitivamente ao Panamá em 1999 – conforme acordo com o governo do Panamá assinado 22 anos antes pelo presidente norte-americano Jimmy Carter, e que custou ao posteriormente Nobel da Paz quase um linchamento por parte dos setores ultraconservadores do Congresso dos Estados Unidos. Desde então, com uma administração considerada exemplar a cargo de uma entidade pública autônoma, sem interferência do governo, experimenta um renascimento comercial.
Desde 1999, o Canal já rendeu aos cofres panamenhos 6,1 bilhão de dólares — uma fábula para um pequeno país de 72 mil quilômetros quadrados 3,5 milhões de habitantes (a soma das populações de Guarulhos, Campinas e Goiânia). Atualmente suporta 5 % do tráfego marítimo mundial, com uma média de 40 cargueiros por dia. Esses números, já muito positivos, estão prestes a mudar em ritmo exponencial.
O novo canal
A excelente perspectiva se baseia na monumental ampliação da via interoceânica, iniciada em 2007 após ser aprovada em referendo nacional no ano anterior e orçada no equivalente a 13,4 bilhões de reais.
Com comportas de 426,72 metros de comprimento, 54,86 de largura e 18,29 de profundidade – medidas entre 25 e 50% maiores que atuais -, o novo canal deverá acomodar cargueiros muito maiores, aumentando sua capacidade em 3% ao ano, com a previsão de atingir o dobro da de 2005 no ano de 2025. As estimativas também contemplam a triplicação do potencial de arrecadação para o Estado.
Canal-Panamá-obras-ampliação
Obras de ampliação do canal (Foto: blog.newsok.com/thewanderer)
Uma ótima notícia tanto para os empresários panamenhos como para o governo do presidente Ricardo Martinelli – empresário dono de uma rede de supermercados – e seus colegas norte-americanos e chineses. As duas maiores economias do mundo são as maiores clientes do canal, tendo transportado por ali, juntas, no ano passado, 197 milhões de toneladas (144 milhões dos Estados Unidos, 53 milhões da China).
Aeroportos, portos, estradas, hospitais… 
O cenário gera mais otimismo diante da informação de que o investimento na verdadeira mina de ouro que é o canal apenas integra um plano bem maior dedicado às infraestruturas do país.
Ao final do período entre 2009 e 2014 – ano do centenário do Canal e da abertura de sua nova versão – cerca de 43 bilhões de reaus terão sido gastos não apenas no revolucionário acesso marítimo e obras complementares, como duas pontes sobre suas águas, mas também de uma série de itens que o Brasil, por exemplo, não consegue concretizar: a ampliação de cinco aeroportos, a universalização do saneamento básico, e a construção do metrô da capital, de portos, estradas, escolas e hospitais.
Além disso, o Ministério de Obras Públicas panamenho busca parcerias público-privadas – responsável pelo aquecimento de outro setor local, o da construção, que coalhou a capital e outras cidades de arranha-céus de 50 andares e mais - para explorar melhor um dos potenciais que por ora dá muito mais fama aos vizinhos: o turismo.
Panamá-City
As parcerias público-privadas aqueceram o setor de construção civil e dão um aspecto de constante canteiro de obras à Cidade do Panamá (Foto: Reuters)
O “milagre panamenho”, que faz com que, com grande exagero, o país já esteja sendo chamado de “a Singapura da América Latina”, não tem por base apenas o canal, mas uma legislação pró-negócios que atraiu grandes empresas dos setores financeiro e de seguros e deu segurança aos investimentos estrangeiros, que vêm sucessivamente batendo em 9% do PIB anualmente. As tarifas de importação, sobretudo para equipamentos e máquinas, são as mais baixas da América Latina.
Para ser uma Singapura, porém, o país precisa superar muitos obstáculos, a começar pela desnutrição das populações indígenas do interior e a má qualidade da educação. No ano passado, no último teste PISA, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de que participou — exame que afere o nível de alunos de 15 anos de diferentes países –, o Panamá ficou em 63º lugar entre 64 países avaliados.
Economia, como se sabe, não é tudo, é só um bom começo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário