domingo, 29 de julho de 2012

Jhonatan de Sousa Silva. Profissão: assassino. Tem 49 mortes nas costas, não se arrepende de nada e reza toda noite



FRIEZA E CRUELDADE Jhonatan de Sousa Silva, pai de dois filhos, religioso e pistoleiro de aluguel, diz que não tem remorso nem prazer em matar: "Não sinto absolutamente nada. É só um trabalho" (Foto: Roberto Jayme / Photonews)
FRIEZA E CRUELDADE -- Jhonatan de Sousa Silva, pai de dois filhos, religioso e pistoleiro de aluguel, diz que não tem remorso nem prazer em matar: "Não sinto absolutamente nada. É só um trabalho" (Foto: Roberto Jayme / Photonews)
(Reportagem de Gustavo Ribeiro, publicada na edição impressa de VEJA

Jhonatan de Sousa Silva
Profissão: assassino
Quando matar uma pessoa é uma atividade econômica como outra qualquer. Este homem, de apenas 24 anos, já fez isso quase cinquenta vezes
Às 22h30 de 23 de abril deste ano, o jornalista maranhense Décio Sá foi morto com cinco tiros, enquanto jantava em um restaurante da movimentada Avenida Litorânea, em São Luís. O assassino não disse uma única palavra antes de atirar. Com frieza incomum, entrou no restaurante, aproximou-se e disparou três vezes em direção à cabeça do jornalista. Depois, mais duas vezes em seu tórax, quando ele já estava no chão, provavelmente sem vida. Tudo aconteceu em menos de vinte segundos. Sem esconder o rosto, o homem caminhou tranquilamente rumo à saída, sentou na garupa de uma moto que o aguardava do lado de fora e se foi.
O assassino, Jhonatan de Sousa Silva, 24 anos, já teve dezenas de noites como aquela. Matador profissional, começou nesse ramo ainda na adolescência e já acumula 49 mortes no currículo, pelo cálculo da polícia. Não se arrepende de nenhuma delas. “Ninguém morre de graça”, justifica.
Descrito pelas autoridades do Estado como um predador frio, um verdadeiro psicopata, Jhonatan não sente remorso nem prazer em matar. Para ele, é um trabalho como outro qualquer. O jovem de 24 anos já matou traficantes, brigões de bar, agiotas, sem-terra, mulheres e pelo menos uma criança.
Não é de recusar “serviço”, como sempre se refere aos assassinatos. Por eles, já recebeu quantias entre 5 000 e 100 000 reais. E também já matou por camaradagem, atendendo ao pedido de um amigo. Quando foi preso, Jhonatan trabalhava para uma quadrilha de agiotas. O jornalista era parte de uma empreitada de oito “encomendas”.
A polícia apreendeu fotos de seis pessoas que seriam procuradas por Jhonatan. Todas a mando da quadrilha que ordenou o assassinato de Décio Sá. Chefiado por políticos no Maranhão – suspeita-se que até um ex-secretário de estado esteja envolvido, o bando custeia campanhas para prefeitos que, uma vez eleitos, recorrem a desvios de dinheiro público para quitar o débito.
Quem falha com os pagamentos é apresentado ao “departamento de cobrança” do grupo. Espancamentos e sequestros de parentes eram os métodos mais, digamos, persuasivos. Se nada disso desse certo, Jhonatan era acionado. A polícia acredita que dois prefeitos mortos no interior do estado tenham sido vítimas da mesma quadrilha. O jornalista morreu depois de relatar em seu blog algumas das peripécias do bando.
Para matá-lo, Jhonatan Silva seguiu o método que desenvolveu ao longo de sua “carreira”: observou a vítima por alguns dias, descobriu sua rotina, seus horários. Na primeira oportunidade, o serviço foi realizado.
O assassino profissional sempre teve fascínio por armas e filmes de ação repletos de sangue. Matou pela primeira vez aos 14 anos, em sua cidade natal, Xinguara, no Pará, depois de uma briga em uma festa. Disparou cinco tiros de revólver contra um jovem que o agredira. Ganhou fama de valente. “A primeira vez dá uma emoção diferente. Fiquei nervoso, ansioso, mas depois passa. Hoje, não sinto nada – só uma sensação de alívio pelo dever cumprido. É comum, é só um trabalho”, comenta.
Seu primeiro serviço remunerado veio poucas semanas depois. Ele recebeu 5 000 reais e um revólver para matar o desafeto de um traficante. E vieram outros, outros e mais outros. Apesar da pouca idade, a indiferença com que trata a vida humana e a disposição para matar o tornaram conhecido no Pará, Maranhão e Piauí. “Sempre tinha trabalho. De vagabundo que queria matar inimigo a fazendeiro querendo tirar gente das suas terras”, enumera a variada clientela.
Um fazendeiro, certa vez, contratou-o para “dar um jeito” em uma família que invadira sua propriedade. A missão era desencorajar outros de fazer o mesmo. Jhonatan conta que, com uma pistola, foi ao barraco da família e atirou na cabeça do invasor, da esposa e da filha de 14 anos do casal. Depois, cortou-lhes a cabeça.
O que impressiona em Jhonatan não é apenas a frieza com que fala de seus crimes. É também a perfeita consciência sobre o que faz e o descaso com que trata os assassinatos que comete. “Entrei nessa vida por escolha. Minha família era bem estruturada e nunca nos faltou nada”, assume.
O matador profissional se considera uma pessoa boa, carinhosa com os amigos e a família, e não se acha violento. “Tenho essa profissão, mas não saio gastando violência por aí. Só uso quando preciso”, justifica. Temente a Deus, ele frequentou até os 16 anos cultos da Assembleia de Deus.
Reza todas as noites, pedindo proteção para si, para os pais e os irmãos, para os dois filhos pequenos e para a namorada, de 20 anos, que está grávida de cinco meses. De vez em quando, inclui as vítimas em suas preces. “Peço para Deus guardar, colocar num lugar bom… Sei que vou ter de prestar contas a Deus, mas isso é para depois”, explica.
Jhonatan afirma estar cansado da vida de matador por se tratar de ummétier perigoso e que não rende muito dinheiro. Grande parte do que ganha é gasta com advogados. O resto se perde em farras, mulheres e bebidas. Ainda assim, com a renda dos assassinatos, ele conseguiu ajudar o pai a abrir um posto de gasolina no Pará e a mãe a montar uma distribuidora de bebidas em Goiânia.
Apesar do currículo e da longa carreira, ele havia sido preso apenas uma vez, como “suspeito” de um crime. Ficou detido provisoriamente por quatro meses – e acabou solto. No mês passado, a polícia do Maranhão enfim encontrou o matador, quando ele, aparentemente, levava à frente o plano de mudar de profissão.
Jhonatan, que estava com 10 quilos de crack, contou que tentava, aos poucos, se estabelecer como traficante. Agora, com a perspectiva de passar alguns anos na prisão, pensa em estudar: “Se tiver a oportunidade, quero virar advogado, mesmo na cadeia. A pena máxima no Brasil é trinta anos, e tem a progressão. Sei que, em poucos anos, vou sair e retomar minha vida”.
A certeza da impunidade foi o que sempre o moveu. Por isso, ele nunca se preocupou em cobrir o rosto ou matar suas vítimas em locais isolados.

Um comentário:

  1. segundo informaçoes aqui em belém ele confessou ter matados os 6 jovens do distrito de icoaraci. confere essas acusaçoes?

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