sexta-feira, 13 de julho de 2012

A era das periguetes


NELSON MOTTA


Antes elas eram as abomináveis piranhas, cachorras e ratazanas, que devoravam os maridos e namorados alheios. Hoje são as adoráveis periguetes, queridas até entre as crianças, as famílias e o público mais conservador. Antes eram groupies de bandas de rock, ripongas calça-frouxa e marias-chuteira, que ganharam alforria com a pilula anticoncepcional, viraram grupo de risco depois da Aids e fizeram dos testes de paternidade por DNA um meio de vida. 

Deborah Secco é a rainha das periguetes na televisão, temperando seu sex-appeal com um lado doce e vulnerável, como as putinhas românticas de Fellini, e ganhando sempre das moças de família na preferência do público. A Deborah discreta e tímida da vida real, com sua voz rouquinha e seu talento de atriz, vira um vulcão sexual sempre prestes a explodir, incendiando desejo e medo nos espectadores. Assim como Regina Duarte era a namoradinha, Deborah é a periguete do Brasil. 

Mas não se iludam com a eventual doçura e os bons sentimentos da periguete. Como o próprio nome indica e o clássico das Frenéticas adverte, ela é bonita e gostosa, mas perigosa, no seu pacote está incluída a perspectiva de virar uma chave de cadeia. Mas, como tudo na vida, há periguetes do bem e do mal, as que têm amor à sua escolha e a exercem com alegria e sem culpa — e as sanguessugas vocacionais, as alpinistas sociais e as golpistas profissionais, que usam o corpo como arma. Como Mariana Ximenes em "Passione". 

Um dos maiores sucessos do megassucesso "Avenida Brasil" é Isis Valverde como a periguete boliviana Suélen, boa de cama e de mesa, que faz gato e sapato dos corações masculinos do Divino com seu mix de malícia e ingenuidade, espontaneidade e malandragem, e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar. As novelas não vivem mais sem elas, que inspiraram Chico Buarque no Hino das Periguetes: 

"Se acaso me quiseres,/sou dessas mulheres/que só dizem sim,/por uma coisa a tôa,/uma noitada boa,/um cinema um botequim (...)/Mas na manhã seguinte,/não conta até vinte,/te afasta de mim,/pois já não vales nada,/és página virada,/descartada do meu folhetim."

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