segunda-feira, 30 de abril de 2012

O GPS da vida



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Não tenho o menor senso de direção. Faço parte daquele grupo de pessoas para as quais o deslocamento de um lugar a outro é sempre um desafio. O Norte parece sempre mudar de lugar. Estar pedido é não somente habitual, mas também um fato inevitável da vida.
Talvez por isso, adoro o GPS do meu carro. Aquela voz feminina me explicando cada caminho e avisando a cada curva com precisão milimétrica me traz a segurança que eu chegarei a meu destino como planejado. Esta segurança provavelmente é ilusória. Sei que GPSs não são perfeitos.
Outro dia, vi no jornal a fotografia de quatro carros submersos parcialmente em um rio. Foi na Inglaterra. Os motoristas dos carros haviam conduzido seus veículos para dentro d água porque o GPS havia indicado que o rio, e não a estrada, era o caminho correto.
Sempre me perguntei como foi possível a esses motoristas seguirem as instruções do GPS apesar de elas estarem claramente erradas. Parece que eles deixaram de ouvir a sua voz interna e ignoraram as informações que o cérebro mandava baseado naquilo que os olhos viam.
Acho que todos nós temos esta voz que insiste em distinguir o que é certo do que é errado. Às vezes, estas vozes falam tão alto que a gente sente fisicamente sua presença. É aquela sensação de que tem algo fora de lugar. É aquilo que chamamos de consciência. A ética é a manifestação física desta voz interna.
Ética, como disse o Jurista inglês John Moulton, é obedecer ao que não tem punição prevista em lei.
O comportamento ético vem como resultado dos diálogos internos em que a consciência compara os fatos, as ações possíveis com os valores e decide (ou melhor, recomenda), o que é certo e o que é errado. Quase sempre, o comportamento antiético acontece quando as ações não seguem a consciência.
Decidir o certo do errado não é tarefa simples. A vida é cheia de curvas, dilemas, circunstâncias, pressões e situações. O certo não necessariamente é o obvio. O errado pode não estar evidente. Tudo isso gera ruído externo que interfere com a capacidade de ouvir a consciência. Optar pelo certo pode ter um custo ou mesmo não ter recompensa imediata aparente.
Viver é complicado, mas ignorar a voz interna é um erro. É a consciência individual a juíza das ações de cada ser humano. A ela pertence a avaliação que norteia as ações. É ela a companheira inseparável de cada um. Dela não se pode fugir. Dela não se pode esconder. Contrariá-la é condenar-se a ouvir, eternamente, os gritos de uma voz interna que não pode ser calada.

Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Emailesimoes@uvic.caEscreve aqui às segundas-feiras.

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