terça-feira, 2 de setembro de 2014

Cartas de Londres: Ameaças terroristas

Beatriz Portugal

As manchetes todas traziam a notícia de que o governo elevou o alerta de ameaça terrorista no Reino Unido para “grave”, o segundo nível mais alto da escala. Com isso, um ataque terrorista tornou-se “altamente provável”, mesmo o governo ressaltando que não há qualquer indício que sugira que um ataque seja iminente.
A mudança de nível, na sexta-feira, foi em resposta a possíveis ataques por conta dos conflitos no Iraque e na Síria, principalmente pela quantidade de cidadãos britânicos que viajaram para combater nessas áreas e que poderiam voltar para cometer atos terroristas nas grandes cidades.
Pensando a respeito, me perguntei quais as chances de algo “altamente provável” acontecer. Sem muito critério matemático, concluí que algo provável deve ter mais de 50% de chance de acontecer e, portanto, algo altamente provável deve ficar em torno de 60% ou 70%.
Viver sob uma ameaça como essa não é algo corriqueiro e nem deveria ser, mas os anos que tenho passado em Londres mostram uma reação muito mais tranquila da que percebi em Washington logo após o 11 de setembro. Talvez seja um reflexo dos vários anos com ataques por parte do IRA e uma certa consciência de que esse tipo de coisa pode acontecer como parte da vida cotidiana.
Outro desdobramento dessa atitude mais calma em relação à uma potencial ameaça terrorista é o modo com que as pessoas reagem a pacotes deixados em plataformas ou uma mala esquecida pelo dono no saguão de um aeroporto.
Nos Estados Unidos esse tipo de coisa geraria um cordão de isolamento e o aparecimento de vários membros de uma equipe anti-bombas. Aqui o que geralmente acontece é que um funcionário vai até lá, verifica o objeto e o retira tranquilamente, permitindo que tudo siga normalmente sem maiores sobressaltos.
Mas é inegável que estão todos condicionados a avisar o agente mais próximo de qualquer objeto largado. Os vários pôsteres com tais avisos distribuídos em aeroportos, estações de trem e de metrô procuram não deixar ninguém esquecer que a ameaça de uma bomba é bem possível mesmo quando não é “altamente provável”, mas são tão parte do dia-a-dia que não chegam a deixar os britânicos paranóicos.
Tudo isso não quer dizer que a reação inglesa seja necessariamente melhor do que a pirotecnia americana e que talvez a Inglaterra não tenha sofrido ataques terroristas desde os acontecimentos de julho de 2007 pelo bom trabalho dos seus serviços de inteligência aliado a um pouco de sorte.
Mas certamente ela permite que as pessoas vivam suas vidas de modo normal e não fiquem sob um estado de tensão constante, se acreditando alvos de uma ameaça permanente. Faz tudo parte da conhecida fleuma inglesa, tão bem descrita naquele slogan já batido: “fique calmo e siga em frente”.

Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar

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