sábado, 10 de maio de 2014

‘- Está tudo certo, mas não bate’, por Maria Helena RR de Sousa

Maria Helena RR de Sousa - 
9.5.2014
 | 16h16m
POLÍTICA


Leio aqui no Blog um comentário que podia ser o slogan do Brasil DilmoLuloso: “Está tudo certo, mas não bate”. O autor? Um antigo leitor que usa um apelido simpático: Juca Leiteiro.
Ele comentava uma afirmação de dona Dilma com jornalistas escolhidas, sobre a inflação, na qual a presidente disse: ‘Não está tudo bem, mas está sob controle'.
Juca Leiteiro, ao ler essa informação, de pronto se lembrou de um auxiliar contábil que costumava dizer ao fim das contas e balancetes: ‘Está tudo certo, mas não bate’.
Mas é que não bate mesmo! Inflação adquirindo pujança, greves em serviços essenciais causando um dano terrível a uma população sofredora, que acorda no escuro para sair para o trabalho, volta quando a noite já caiu, ganha mal e paga caro para viver uma vida de segunda – que digo – de terceira classe!
Dona Dilma disse também: "A única pessoa que te derrota é você mesma. Em qualquer circunstância, a derrota está aqui dentro (apontando para a cabeça) e eu não me deprimo. Não sou uma pessoa deprê”.
É apavorante saber que ela não se deprime ao olhar pelas janelas e ver o Brasil que preside. Um país violento, amargo, desesperançado, sem ânimo, habitado por brasileiros infelizes, que não distinguem o Bem do Mal e que estão se tornando brutais, onde crimes inimagináveis até o final do século 20 viraram notícias do dia a dia.
Deprimir-se, nessas circunstâncias, seria um bom sinal. Se não cabe a ela resolver todos os nossos problemas, ao menos saberíamos que tem coração e que sofre com o nosso sofrimento.
Nossa imagem sempre colorida e com trilha sonora de primeira água, engana e enganou durante muito tempo. Neste último fim de semana Roberto D’ Ávila, um craque em entrevistas, ouviu no Palácio Doria Pamphili, em Roma, o sociólogo Domenico de Masi, aquele do ‘Ócio Criativo’. O papo entre os dois abre sobre a beleza ímpar da Piazza Navona, em parte nossa.

  Piazza Navona: ao lado da nossa embaixada, a Igreja de Santa Agnese in Agone

Esse intelectual tão respeitado disse que a civilização brasileira era, junto com a grega, uma das mais criativas. Que nossos índios eram grandes artistas e que se não temos Capelas Sistinas era porque os índios pintavam no corpo da pessoa amada em vez de pintaram sobre coisas inertes.
Segundo esse senhor (que já veio muitas vezes ao Brasil e desmente a noção que as viagens formam a juventude, ou a maturidade), somos o povo mais doce que há, doçura que herdamos dos índios, depois enriquecida pelos outros povos que para cá vieram.
Gentilmente interpelado pelo jornalista sobre a violência que o Brasil enfrenta, ele rapidamente disse que isso é fruto dos shoppings que vendem Ferraris ao lado de favelas.
A entrevista naquela galeria deslumbrante que é nossa e que graças a Deus foi pintada em matéria inerte, foi encerrada com um sorriso bem doce do entrevistador ao agradecer ao sociólogo seu amor pelo Brasil. Agradecimento merecido. Isso é que é amor. Cego.

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.


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