quarta-feira, 5 de março de 2014

Cartas de Berlim: Carnaval para todos, por Albert Steinberger


Quando ouvi falar a primeira vez de carnaval na Alemanha, imaginei um bando de gringos com os dedos apontados para cima e rodopiando, enquanto tentavam dançar meio desengonçados samba, ou qualquer ritmo latino. Esta era a imagem que eu tinha quando somadas as palavras alemão e carnaval, que até então pareciam quase opostas na minha cabeça.
Isto foi há dez anos na primeira vez que morei na Alemanha, na cidade de Colônia, mais conhecida como a capital do carnaval germânico. Eu, a princípio meio descrente, fui cair na folia com meus amigos. Quando cheguei na estação de trem do centro da cidade velha, eu fiquei boquiaberto com o que vi.
Milhares de alemães se aglomeravam em bares e botecos, ou assistiam o desfile pelas ruas da cidade. Ao todo, um milhão de pessoas vão às ruas todos os anos para pular carnaval. Isto em um inverno com temperatura média de uns 5ºC.
Para esquentar, a receita é a mesma dos brasileiros, entornar a cerveja local. Não confunda com os canecos de um litro de Munique. Em Colônia, bebe-se a Kölsch(cerveja de lá) em copos de 200ml ou 300ml e ela é um pouco mais aguada, bem parecida com o que estamos acostumados em termos etílicos, como brasileiros.

O carnaval da cidade de Colônia, na Alemanha, também é conhecido pelas mensagens políticas em suas alegorias. Foto: "Samba en Kölle", 2013

O clima de brincadeira e animação também é parecido, com muita gente fantasiada. Um desfile acontece pelas ruas da cidade, quando pessoas vestidas de figuras da realeza em carros alegóricos jogam doces para a população. Depois fiquei sabendo que o desfile acontece desde 1823 e era uma crítica ao domínio prussiano, na época em que a Alemanha era dividida em vários reinos. Uma crítica que acabou virando tradição.
E tradições aqui não faltam. No Weiberfastnacht (algo como a noite das mulheres), na quinta-feira anterior, elas cortam as gravatas dos homens, algo que simboliza cortar o poder masculino. Com tantos costumes, eu que me senti como um iniciante carnavalesco.
Para mim, a experiência foi uma quebra daquela visão de que o Brasil tem praticamente os direitos autorais do carnaval. Confesso que morro de saudade da nossa festa tropical e queria muito estar no Rio, ou em Olinda nesta semana.
Mas me dei conta que o carnaval mexe com coisas genuinamente humanas, e não somente brasileiras. Afinal, independente da língua e dos costumes, tem coisas que nos unem, seja a vontade de quebrar algumas regras e convenções sociais, mesmo que por alguns dias, ou de festejar até a quarta-feira de cinzas.

Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs. 

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