sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ONTEM, HOJE E AMANHÃ, por Mauro Pereira


Aqui pelas bandas onde eu moro, reza o folclore que uma certa moçoila muito dada e de sólida formação religiosa, num desses modorrentos dias de verão singrou a mansidão do bucólico cotidiano interiorano e irrompeu casa adentro determinada em comunicar à família o suplício que lhe devastava a alma e dilacerava o coração. Movida por uma coragem que desconhecia, disparou num fôlego só: “mamãe, o tarado me pegou ontem, hoje e amanhã!”. images-1Compreensiva, a mãe a acolheu nos braços e a confortou: “não se desespere, minha filha; nada melhor do que um dia depois do outro!”. Ao rememorar essa passagem pitoresca, foi praticamente impossível não estabelecer um paralelo entre as desventuras daquela jovem e a trajetória do Partido dos Trabalhadores.
Quanto mais as lideranças petistas tentam justificar o enorme vazio que os distancia de suas origens, mais se aproximam da menina que ilustra a fábula. Longe da inocência pueril da personagem do conto, usam, no entanto, do mesmo ardil e buscam na retórica rota que os caracteriza um lampejo de decência na prostituição política que escolheram como meio de sobrevivência. De diferente, é que a menina quase-virgem vagueia serelepe apenas pela vastidão do imaginário popular, enquanto os próceres petistas brincam com a realidade e zombam da inteligência da sociedade brasileira surfando nas águas fétidas da hipocrisia.
Ontem, sem estupor, mas com a mais refinada malandragem, invadiram os lares dos brasileiros para comunicar que, açodados pela vergonha imposta por consecutivas derrotas nas urnas, foram obrigados a facilitar as investidas do desalmado e imoral tarado do oportunismo eleitoreiro aceitando como companheiro de orgia política um dos mais expressivos representantes do outrora odiado capitalismo para compor a chapa que elegeria o presidente da República por eles apoiado. Inovadores, criaram jurisprudência no campo da pornografia eleitoral introduzindo a figura jurídica do primeiro caso de estupro consentido. Fruto de uma gestação promíscua e temerária, no terceiro ano daquela conjunção interesseira nasceu o mais famoso dos seus rebentos. Embora empregassem todos os esforços para registrá-lo sob o codinome Caixa Dois, o pimpolho resistiu ao assédio e já prestes a ingressar na pré-adolescência faz questão de ser chamado de Mensalão do PT, seu nome de batismo.
Hoje, totalmente afeitos às delícias proporcionadas pelo poder, denunciam que estão prenhos novamente e que desta vez foram forçados a dividir o leito com o tarado da privatização, inimigo útil que num passado ainda recente lhes garantiu vários milhões de votos e vitórias memoráveis. Preocupados em abafar o caso juram que o rebento é adotivo e, dispostos a provar que a mesma coisa nem sempre é a mesma coisa, colocaram-lhe a alcunha de Concessão. Arrogantes, tinham certeza de que a capacidade de percepção do brasileiro também era concessão do PT. Compreenderam que não era ao serem repudiados nas ruas por ocasião dos protestos acontecidos recentemente.
Amanhã, certamente estarão ávidos por novas aventuras, e, determinados a sacrificarem-se pela causa, não se importarão em submeterem-se aos flagelos que a prostituição política condiciona. Do conforto de suas alcovas, exercitarão a experiência acumulada no jogo da sedução cuidando para ter sempre à mão um conveniente estuprador malvado para justificar as obscenidades que o desempenho nas urnas exigir.
Se por ventura sentirem algum sintoma que possa levá-los a deparar-se com algo semelhante a uma crise de consciência capaz de censurá-los por essa ativa vida mundana, de imediato irão se recompor certos de que encontrarão guarida na sabedoria infinita de seu grande líder e guru que, por sua vez, inspirando-se no exemplo da mãe da moça da historinha, os acolherá sob suas asas protetoras e dissipará todos os seus temores garantindo:
“não se apoquentem, crianças; nada melhor do que um contrato depois do outro!”.

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