segunda-feira, 29 de julho de 2013

O estranho caso do ministro gato do TCU


MAURO DONATO 23 DE JULHO DE 2013
Raimundo Carreiro mudou sua idade para poder assumir a presidência do Tribunal — o que é, segundo um senador, uma “cultura inata”.
Raimundo e Sarney
Raimundo e Sarney
Apadrinhado de José Sarney, o ministro Raimundo Carreiro do Tribunal de Contas da União não chega a se comparar ao Benjamin Button do cinema. Rejuvenesceu apenas dois anos. E só no papel.
No futebol, chamamos isso de gato. Na política, podemos chamar de rato.
A intenção do ministro foi a de adiar sua aposentadoria em mais um biênio para, com isso, poder assumir a presidência do TCU quando chegar a sua vez. Sim, ela chegará, é garantida.
Funciona assim: a presidência do TCU é ocupada através de uma eleição de faz-de-conta, uma vez que o cargo é exercido num sistema de fila. O “eleito” é sempre o ministro mais antigo da casa que ainda não tenha desempenhado a função. Como “a vez” de Raimundo Carreiro só se dará em 2016 e, pela data de nascimento do ministro (até então 1946), neste ano sua idade será/seria de 70 anos, avistou-se um problema. Aos 70 anos ele deverá aposentar-se obrigatoriamente e seus planos de assumir a presidência iriam por água abaixo.
O que fez Raimundo Carreiro? Deu um pulinho em São Raimundo das Mangabeiras, no Maranhão, e retornou com uma certidão de batismo na igreja, redigida a mão e datada de 1948.
Pronto.
Acontece que em 2006, quando nosso viajante no tempo atingiu 60 anos de idade por ter nascido em 1946, Raimundo Carreiro não se lembrou de nada disso e aposentou-se no Legislativo com uma remuneração de R$ 44 mil atualizados (que, é bom que se diga, ele hoje não recebe por não poder acumular aos proventos do TCU).
Resumindo, não sabemos se ele sacaneou na primeira aposentadoria, na segunda, ou nas duas.
Nesta segunda-feira o TCU soltou uma nota através de sua página na internet, em que esclarece que a alteração de idade em nada interferiria em seu processo de aposentadoria perante o Senado. À época, ele atenderia às exigências da legislação para aposentadoria integral que era de 35 anos de serviços prestados. Explica mas não justifica e vice-versa.
Maior sinceridade mostrou o senador Jarbas Vasconcelos do PMDB-PE que afirmou não acreditar que o Senado vá rever essa questão pois “é corriqueiro se fazer coisas erradas” e para quem tudo não passa de fruto da “cultura inata”.
É muito confortante para os brasileiros sabermos que um ministro e futuro presidente do Tribunal de Contas seja alguém com tamanha habilidade para contas a ponto de “flexibilizar” a própria idade conforme a situação. Já imaginou Raimundo Carreiro no controle da inflação?

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