quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Brasil está febril


Sylo Costa
Tenho um amigo médico que, sempre que nos encontramos, responde à pergunta natural, “como vai você?”: “estou assintomático”. O adjetivo quer dizer que está sem sintomas de anormalidade orgânica, mas não inclui, evidentemente, uma coceira, uma unha encravada ou mesmo uma dorzinha de cabeça de vez em quando. Sim, mas uma coceira começa coçando, e uma bacteriemia que provoca coceira pode ser coisa muito séria se não for cuidada a tempo.
O Brasil está febril e tem uma coceira danada desde a década passada, que começou em 2003, febre resultante de infecção virótica, provocada pelo “vírus da corrupção”, mal que grassa já há algum tempo na América Latina em países que, como os “nouveaux-riches”, querem liderar o mundo… Existem governantes novos com mentalidades velhas e velhos com mentalidades novas, atualizadas. O Brasil tem se dado melhor com governantes mais velhos, esses do segundo caso.
Nada é mais atual que a honestidade, característica dos governos militares e de uns poucos civis. Cara, você é a favor de ditaduras? Ser, não sou, mas estive e estou em dúvida atroz que a mente esmaga, como a fatalidade de Castro Alves em “Navio Negreiro”. Fui o único voto em branco na convenção da Arena que escolheu o General Figueiredo como presidente da República. Hoje, diante de Collor, Sarney, ex-Luiz e o carbono dele, prefiro até general do Exército de Salvação.
VIROSE RESISTENTE
A febre do Brasil de hoje é provocada por uma virose resistente a qualquer antibiótico, a falta de vergonha na cara, que provoca esse mal difuso chamado “reformas”, que exigem, para baixar a febre, fortificantes, como infraestruturas, saúde, educação, justiça social e segurança para um povo que é trabalhador, de boa índole e quer apenas viver em paz. No eufemismo, quando digo que toda coceira começa é coçando, estou dizendo que essas passeatas de agora já começam a preocupar e confundir a opinião pública, porque o recado já foi dado e entendido, e o governo, demagogicamente, responde com subterfúgios como copas do mundo, Olimpíadas, dinheiro emprestado para comprar produtos da linha branca etc. e tal.
Será que o governo não sabe que o povo não vai para as ruas atrás de geladeiras e fogões? Sei não… mas que parece que esses desconhecidos que quebram tudo e queimam carros, arrebentam lojas e bancos são paus-mandados para confundir a opinião pública, parece. Com eles, quem sabe a multidão não passa a entender que é melhor ficar tudo como está e para de protestar? Isso não está parecendo com aquela história do bode na sala?
Pois é, se acabam as passeatas, acabam também os baderneiros que quebram tudo, e assim continua tudo como dantes naquele quartel de Abrantes… É, pode ser, mas, na história do bode na sala, a catinga melhorou por pouco tempo e, se não houver providências dos governos, a catinga do bode voltará insuportável, e aí… bem, a história vai registrar. (transcrito de O Tempo)

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