terça-feira, 16 de abril de 2013

Nem tomate nem chuchu, por Ateneia Feijó



Tem petista fanático acusando a imprensa de criar uma expectativa de inflação, provocando a subida de preços ao consumidor a fim de criticar o desempenho econômico do governo. Ou seja, a imprensa seria culpada pelo atual IPCA e não deveria noticiá-lo com destaque.
Durma-se com um fanatismo desses. Não fossem as manchetes alusivas ao atual índice de inflação, talvez os adeptos do risco de se cair numa política inflacionária não estivessem nem aí para o perigo.
Além disso, também era ameaçador o fato das novas gerações desconhecerem os efeitos de um encarecimento feroz da vida para as pessoas.
A turma mais jovem precisa aprender a história da hiperinflação neste país, para que essa desgraça nunca mais aconteça. E saiba detectar o indício de uma simples perda do poder de compra aos primeiros sintomas.
Eles surgem quando um preço sobe aqui, outro ali, ora por uma razão, ora por outra, até que a carestia atinge o dia a dia dos trabalhadores. E aí, traiçoeiramente, vai se transformando nos temíveis índices inflacionários que corroem rendas e salários.


Há quem inicialmente os subestime, os festeje como evidência de aquecimento de consumo, “coisa positiva” para o crescimento econômico. Sem levar em conta que o comércio é somente a ponta de uma cadeia produtiva formada por indústria, investimento, logística, infraestrutura e capital humano.
Bem vindas matérias alertando para o perigo à vista. Mesmo que ainda distante.
Embora já houvesse a percepção dos cidadãos comuns de que seu dinheiro passara a valer menos no supermercado ou na pizzaria, apenas os mais velhos vinham se preocupando com isso. Pudera, é na memória deles que está arquivada aquela angústia de trabalhar tanto e não conseguir planejar, desenvolver projetos, sonhar.
Sim, precisa-se de sonhos e metas: na vida pessoal, familiar e profissional. Eles fazem parte da ascensão dos indivíduos e das sociedades. Mas a hiperinflação desestabiliza tudo.
A indexação, por sua vez, não traz de volta a tranquilidade do controle da própria vida. Não compensa perdas, que continuam indefinidamente, em espiral. De forma perversa, a atingir principalmente os pobres. Não se justifica repetir erros do passado.
IPCA alto compromete a qualidade dos produtos. Incentiva a corrupção, a concentração de renda. E políticas sociais (com educação e segurança) só são possíveis com estabilidade monetária. Levam tempo... O que as torna ainda mais valiosas. Assim como é valiosa a alternância democrática de poder.

Ateneia Feijó é jornalista.

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