sexta-feira, 1 de março de 2013

Vizinhos saudáveis, por Miriam Leitão


Míriam Leitão - 
1.3.2013
 | 
9h00m


 O PIB fraco de 2012, que será divulgado hoje, não é culpa da crise externa. Outros países da América Latina estão vivendo um bom momento. México, Chile, Colômbia e Peru têm mantido boas taxas de crescimento com inflação baixa. O México bateu recorde de exportação em 2012, quase US$ 370 bilhões, mais de US$ 1 bilhão por dia. O Peru cresce num ritmo de 6% e investe 29% do PIB.
A economia mexicana cresceu 3,9% em 2012, com inflação de 3,2% e taxa de desemprego de 5,2%. É o país com a maior corrente de comércio da América Latina. O Chile teve 5,6% de PIB com inflação de 1,8% e desemprego de 6%. Os peruanos ostentam um ritmo de crescimento de 6,5%, depois de crescer 8,8% em 2010 e 6,9% em 2011. Têm inflação de 2,7%. A Colômbia tem decepcionado nos últimos trimestres. O número final de 2012 deve ser de “apenas” 3,4%, depois de uma alta de 5,9% no ano anterior. Tem ainda o trunfo da inflação estar em 2%, o que permite estímulo monetário sem arranhar a reputação do Banco Central.
Na América Latina, há países que estão bem e há países que vão mal. A Venezuela teve crescimento forte no ano passado por causa de um excessivo gasto, mas tem inflação altíssima e desabastecimento. A Argentina também cresceu, mas com vários desajustes, e também uma inflação muito alta.
Mas há outros que crescem com inflação baixa. O que esses países têm que o Brasil não tem? Os economistas acham que eles estão conquistando mais confiança de investidores e estão abertos para o comércio internacional. Isso aumenta o dinamismo das empresas e atrai investimentos e fluxos de capital. Para efeito de comparação, a taxa de investimentos em relação ao PIB chega a 29% no Peru; 27%, na Colômbia e no Chile; e 22% no México. No Brasil, está em 18%.
— Eles têm acordos comerciais bilaterais que facilitam investimentos e aumentam a concorrência com as empresas locais. Também têm feito reformas, que visam o crescimento no longo prazo. A Colômbia no final de 2012, mesmo com a desaceleração, fez uma reforma tributária que vai incentivar a formalização. Nenhum desvalorizou a moeda, como fez o Brasil, e isso manteve a inflação baixa mesmo com o choque de alimentos — explicou Luka Machado, economista do Itaú Unibanco.
O México é um caso à parte, porque é uma economia industrializada e não é grande exportador de commodities, como Chile, Peru e Colômbia. Cresceu muito pouco durante os anos 2000 e só voltou a chamar atenção a partir de 2010, quando teve alta de 5,3% no PIB. Segundo estudo da Ernst & Young sobre mercados em rápido crescimento — que também inclui o Brasil — os mexicanos estão voltando a ganhar mercado nos Estados Unidos porque o custo do produto chinês está subindo, com a alta dos salários. Eles estão ocupando espaço da China.
Há também outra explicação, segundo o conselheiro comercial da ProMéxico, organismo do governo mexicano que atua no Brasil, Juan Manuel Correa. A crise americana de 2008 forçou os empresários do país a buscarem novos mercados. O México tem mais de 40 acordos comerciais em todo o mundo e seus produtos industriais, por terem os EUA como destino, são bem aceitos em outros países. Eles já têm aprovação em critérios internacionais de embalagens, tecnologia, vigilância sanitária.
— Nossas exportações chegaram próximo de US$ 400 bilhões em 2012, mais de US$ 1 bilhão exportado por dia. Recorde. Ao mesmo tempo, a participação dos EUA e do Canadá na exportação caiu de 90% para 78% nos últimos quatro anos. A crise teve esse efeito positivo de se buscar novos mercados. Com a recuperação dos EUA, há um ganho comercial duplo — disse.
A economia peruana é similar à chilena. São países de PIB pequeno, com populações também reduzidas quando se compara com os números brasileiros. Os dois são grandes exportadores de cobre. No Chile, a corrente de comércio representa mais de 70% do PIB. Os dois países são os mais bem colocados da região no ranking do Banco Mundial de facilidade de se fazer negócios. O Chile, numa amostra de 180 países, aparece em 37º lugar, e o Peru, em 43º. A Colômbia vem logo em seguida, em 45º , e o México, em 48º . Na mesma lista, o Brasil vai na rabeira, como 130º.
O jeito errado de explicar o PIB pequeno de 2012 é culpar o mundo; o jeito certo é ver os nossos equívocos.

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