domingo, 13 de janeiro de 2013

O Japão do tsunami. O Brasil das chuvas



Luiz Antonio Barreto de Castro, O Globo
A unidade de destruição ambiental é hoje medida em tsunamis. Já foram, no passado, as erupções vulcânicas, as avalanches, os terremotos. São assim chamados em geologia os fenômenos extremos. Todos de difícil previsão, principalmente os terremotos.
A Califórnia não consegue prever quando as placas da falha de San Andrés vão sofrer ajustamentos, apesar do extraordinário esforço de pesquisa nesta área.
O “Big One” vai chegar um dia com 7, 8 ou 9 na escala Richter. Mas quando?
Os tsunamis, por razões ainda não explicadas cientificamente, se tornaram mais frequentes e são devastadores. Ocorrem associados com terremotos. O que aconteceu no Japão recentemente, em 11 de março de 2011, provocou uma destruição cujos custos o país ainda paga.
Capa recente de um dos números da revista “Science” que assino há décadas mostra um homem em pé ao lado de uma montanha de lixo e destruição. A escala é inacreditável.
No entanto, o Japão praticamente já limpou a área e alguns dirigentes devolveram dinheiro que restou.
Em 2011 tivemos um deslizamento de grandes proporções na Serra Fluminense. Acreditem, o lixo e a lama ainda estão lá!
Dinheiro para prevenção? Quase nada. Isto nos diferencia do Japão.
Já o dinheiro para a recuperação das áreas atingidas ou não foi liberado ou foi vítima da corrupção dos dirigentes responsáveis pelos municípios afetados. Segundo O GLOBO (08/01) o governo do Rio utilizou apenas 33% da verba destinada no orçamento de 2012.
No Brasil morreram quase mil, no Japão morreram milhares e o tsunami ainda provocou uma crise nuclear.
O imprevisível no Japão, apesar dos sistemas de alerta de tsunamis, é previsível no Brasil. Salas de situação localizadas nas cidades passíveis dos deslizamentos, que ocorrem todos os anos, podem monitorar o aumento gradual da pluviosidade e, acima de certo nível, a Defesa Civil ou com uma sirene, ou telefone celular ou outro meio, anuncia: deixem suas casas ou morrerão!
Vi este sistema funcionando em Caracas, que resolveu o problema há muitos anos com o auxílio da sua universidade federal.
Este ano morreu um número menor na Baixada Fluminense porque as salas já funcionaram. Por isso, em 2011, ainda como secretário do Ministério de Ciência e Tecnologia, eu disse que se o governo falasse menos e fizesse mais não teriam morrido mil pessoas.
A segunda diferença entre o Brasil e o Japão é que os tsunamis não são previsíveis. Onde vão ocorrer? Quando os alertas são liberados resta pouco tempo para proteger a população. É difícil, da mesma forma, estabelecer um sistema nacional de prevenção.
No Brasil é possível prever os deslizamentos provocados pelas chuvas, mas não são destinados recursos para a prevenção. Recursos, quando liberados, são usados para recuperação do que foi destruído.
Quando eu era criança os deslizamentos ocorriam no morro de Santa Teresa onde nasci. Vi casas e edifícios serem destruídos pelas “águas de março”, que não são tão românticas, como diz o Jobim, para quem vive em Xerém, na Baixada Fluminense, em Friburgo ou Teresópolis, na Serra Fluminense.
Em Santa Teresa, a contenção foi realizada para prevenir novos “deslizamentos”, que não ocorrem mais no bairro.
A prevenção é possível não só pela contenção das encostas, quanto evitando que se construa em áreas de risco, mantendo limpos os bueiros e também estabelecendo reservatórios para armazenar o excesso da água que extravasa dos rios, riachos e ribeirões, como está sendo feito em São Paulo.
Quantos tsunamis serão necessários para termos os recursos e a sua gestão adequada para o controle dos fenômenos extremos?

Luiz Antonio Barreto de Castro é presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia e foi secretário do Ministério de Ciência e Tecnologia por uma década e meia

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