quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A tragédia nacional de Santa Maria. Não são necessárias mais leis. O imprescindível e indispensável: fiscalização e responsabilização.

Helio Fernandes
Descaso, descuido, desapreço, desinteresse, displicência, destroem e desmoralizam qualquer lei. Seja municipal ou federal. A polícia de Santa Maria fulminou toda e qualquer discussão e debate: “A boate Kiss não podia nem estar aberta”. Esse NEM reforça e condena qualquer defesa.
O prefeito disse tudo…
Quem passasse pela frente da boate (ou verificasse pelas fotos amplamente divulgadas por jornais e televisões) constataria que aquela porta mínima não poderia ser a única a servir de entrada e saída da boate. Mas como a boate (igual a todas as outras) só começa a funcionar a partir das 22 ou 23 horas, aí as autoridade e os agentes das autoridades já estão dormindo.
O prefeito de Santa Maria (já devia estar afastado do cargo, pelo menos provisoriamente, agora que é impossível afastá-lo preventivamente), não sabia de nada. No dia seguinte fez declarações altamente comprometedoras. Deve ser o primeiro a ser investigado rigorosamente. E como todos os fatos apontam e indicam para a sua irresponsabilidade, punido severamente.
Afirmações que devem ficar separada para não se perderem: “Estou tranquilo, todos os documentos estão comigo, provando que todas as providências foram tomadas”. Esse papel (documento) indiretamente foi o combustível original da tragédia. Se o senhor Cesar Schirmer (o prefeito) tivesse tomado providência e previdência, nada teria acontecido.
Estava tudo perfeito, em condições de funcionar, sem nenhuma irregularidade, o que houve foi fatalidade”. Irresponsável e mentiroso. Nada funcionou. Desde a entrada que não permitia saída, até uma dezena de falhas criminosas, levantadas na investigação policial.
E o Ministério Público se prepara, vai denunciar o prefeito e autoridades do próprio Corpo de Bombeiros, que têm que ser responsabilizadas, pelo menos por omissão.
Quanto ao que ele chama de fatalidade, o Brasil inteiro chama de crime consciente e comprometedor. Fatalidade foi o incêndio de 1871, que destruiu T-O-D-A a cidade de Chicago. Até hoje não há segurança sobre o início do fogo. Como a cidade era (e continua sendo) dominada pelos ventos fortes, a causa, acredita-se, foi essa. Aí sim, fatalidade, a cidade inteira teve que ser reconstruída.
AS PROVIDÊNCIAS TARDIAS
Agora, no Brasil inteiro, milhares (milhares mesmo) de boates são revisadas por ordem de prefeitos e governadores. Pretendem diminuir a culpa direta e indireta depois da tragédia que matou centenas e traumatizou a vida de milhares ou de milhões. Como saber quanto são, como estão sofrendo desesperadamente e como reconstruirão suas vidas? A solidariedade total do país e do mundo, irrepreensível.
Ajudarão aos que ficaram? Diminuirá o sofrimento, a angústia, a ansiedade que estará presente dia e noite? O dia que parecerá interminável, a noite que não terminará nunca? A qualquer hora, a lembrança sempre presente, o vazio da ausência que será eterna.
Mais dilacerante, o fato de Santa Maria ser um centro universitário, todos os que se foram, estarem tentando se aprimorar para a longa viagem da vida, veio a destruição no momento exato da tentativa de construção. Chorar é o que restou, chorem o mais que puderem. Ao contrário do que dizem, chorar é tão inesquecível, necessário e até indispensável quanto o tamanho da perda sofrida. Nada será esquecido, ficará sempre na lembrança. Chorar não é fuga, é participação, individual e coletiva. Eu sei o que estou dizendo.
FRANCE FOOTBALL CONFIRMA ESTE BLOG.
A CORRUPÇÃO NA FIFA E COPA DO MUNDO

No domingo escrevi artigo (que saiu na terça) denunciando com dados e datas a compra e venda de sedes para a Copa do Mundo de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar). Ontem (quarta-feira), a revista France Football, uma das mais importantes da Europa, trata do assunto, na capa. Lógico, apenas coincidência, mas confirma tudo das minhas fontes, com menos severidade, e identifica a escolha de 2022, como Qatargate.
Isso circulava nos bastidores da Fifa e do futebol, falava-se em centenas de milhões pagos. Em se tratando de Qatar, pode chegar a bilhões sem agredir a realidade. São dos maiores vendedores de petróleo, não gastam nada para manter a comunidade miserável, que não tem como se libertar ou protestar.
Na compra e venda das sedes para a Copa, incluía-se sempre os nomes de Ricardo Teixeira (à época do Conselho da Fifa), conhecido como corrupto, e o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke. Este tentava esconder a participação nos fatos com a audácia de agredir o Brasil. Sem que ninguém do governo ou especificamente no Ministério do Esporte, defendesse o Brasil. Só este repórter protestou, sugerindo que esse senhor Valcke fosse proibido de vir ao país.
Como número 2 da Fifa, sabe tudo que se passa lá, e naturalmente recebe a sua parte da corrupção, ele e Blatter são intimíssimos. Agora a France Football acusa e inclui seu nome diretamente. E ontem, o Caderno de Esportes da Folha publica na primeira, uma foto sensacional: Valcke abraça e beija apaixonadamente o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. (A foto foi publicada em 10 de setembro de 2010.
Teixeira foi afastado por excesso de corrupção, desculpem o excesso, a corrupção no antigo presidente da CBF, uma constante. Devia acontecer também o afastamento de Valcke. Não acontecerá, o medo de Blatter ir junto. O regime da Fifa é ditatorial, o número 1 (Blatter) e o número 2 (Valcke) sabem tudo um do outro.
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PS – Quanto ao abraço e o beijo flagrados pelo fotógrafo André Mello, não é beijo de amante. Só corruptos se entrelaçam na corrupção com tanta paixão.
PS2 – Uma das boates mais novas e mais elogiadas do Rio é a Matriz, com capacidade para 600 pessoas. Na semana em que seria reinaugurada, ganhou página inteira de jornal, chamada de “templo e catedral do entretenimento”. Teve o alvará cassado, “templo e catedral” de irregularidade. Felizmente e finalmente, está fechada.

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