domingo, 11 de novembro de 2012

Minha profissão é dizer o que penso



Carlos Chagas
Voltaire, dos maiores espinhos colocados no caminho da Igreja, escreveu um panfleto intitulado “As Perguntas de Zapata”, no caso, um jovem candidato a padre. O personagem indagou, entre outras questões dos bispos que o interpelavam: “Como vamos fazer para mostrar que os judeus, a quem hoje queimamos às centenas, foram durante quatro mil anos o povo escolhido por Deus?”
Em outra novela, “L’engenu”, conta as desventuras de um índio Huron, trazido da América à França e levado às práticas específicas do catolicismo. Indicaram-lhe uma passagem na Epistola de São Tiago que determinava “confessai-vos uns aos outros”. Numa capela, o aborígene cumpriu à risca a determinação, mas quando acabou de dedilhar seus pecados, arrancou o abade do confessionário, à força, ocupando seu lugar e dizendo que não sairia dali enquanto o outro não confessasse os dele…
Só esses dois episódios conduzem-nos à mesma contradição que um dia marcou a fundação do PT. Como explicar, no caso dos companheiros, que um dia tenham sido os donos da ética, críticos de todas as lambanças praticadas pelos demais partidos, e agora apareçam como mensaleiros, ocupantes de milhares de cargos em comissão, gestores de ONGs fajutas que recebem recursos do Tesouro Nacional e herdeiros do Ali Babá?
Da mesma forma, não dá para entender de que maneira os petistas condenam à fogueira montes de tucanos responsáveis pela dilapidação do patrimônio público necessário à preservação da soberania nacional e, de repente, tenham virado neoliberais de carteirinha.
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ARENAS DA INCOMPREEN SÃO
Os dias da fundação do PT lembram cada vez mais os primeiros tempos do cristianismo, quando mártires viam-se imolados nas arenas da incompreensão, mas logo tornados senhores que acendiam as fogueiras da intolerância. Hoje, o partido que seria dos trabalhadores transmudou-se em agremiação dos donos do poder e das verdades absolutas, à espera de um grito de revolta muito parecido com “Ecrasez l’infame”. A pergunta que se faz, enquanto há tempo, é como reagirão quando a turba cercar a Bastilha? Perderão apenas as propriedades, as mordomias, as benesses e a ocupação do poder? Ou as cabeças, também?
Seria bom meditar quantas barbaridades tem sido cometidas em nome de Deus. Assim como, em nome da justiça social, verificar quantos companheiros transformaram-se em algozes dos princípios fundamentais da liberdade e da democracia.
Para terminar com o mestre François Marie Arouet, o Voltaire, seria bom responder como ele, quando indagado sobre seu modo de vida: “Minha profissão é dizer o que eu penso…”

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