segunda-feira, 30 de julho de 2012

Fim do mundo, por Elton Simões



Em uma das entradas da Universidade de Victoria, sempre encontro um sujeito que, todos os dias, garante que o fim dos tempos está chegando. Segundo ele, a conspiração armada por Satã inevitavelmente resultará em nossa extinção.
Ele não é muito especifico em relação à data ou às circunstancias do fim. Também não consegui entender muito bem porque Satã estaria provocando o fim do mundo, nem o que ele fará com seu tempo vago depois que o mundo acabar. Mas o fato é que ele garante que o fim dos tempos está próximo. Muito próximo.
Já lá se vão três anos que esse sujeito está por ali. Talvez ele e eu tenhamos noções diferentes sobre o que é “próximo”. Eu, cá do meu lado, diria que três anos já é tempo suficiente para abalar sua credibilidade como profeta. Ele provavelmente discorda e por isso fica ali pregando o fim do mundo com data marcada, mas não divulgada.


Parece que denunciar conspirações é uma ocupação popular nestes dias em que o imediatismo reina. Ligada à fornalha da curiosidade, a sede insaciável por entretenimento demanda roteiros de histórias com desfechos rápidos e emocionantes condensados em algumas horas, como se fosse um filme.
Explicar tudo através de tramas e conspirações com desfechos inevitáveis onde cada um de nós é um espectador ou participante involuntário torna tudo mais fácil de ser justificado.
Seja lá como for a vida não é nem tão dinâmica, nem pode ser editada ao sabor da nossa sede de novidades. A existência é construída em pequenos atos diários, constantes e, na maior parte das vezes, sem qualquer glamour.
Esses atos vão, a cada segundo, minuto após minuto, construindo a trajetória e a identidade de cada um de nós.
A essência de cada um se revela todos os dias. É com tempo, consistência e valores que se constroem as trajetórias. Erros e acertos se misturam com tropeços e reerguimentos e, a cada passo, moldam aquilo que somos ou nos tornamos.
A construção das coisas verdadeiramente importantes acontece em velocidade lenta e imperceptível. Por isso, tudo o que é bom é também frágil e precisa ser cuidado. O patrimônio ético de cada um é conquistado diariamente, a cada segundo, em cada decisão, por menor que seja.
É a somatória das ações de cada um que forma a jornada da existência. Credibilidade e honra são patrimônios que demoram a ser construídos, mas cuja posse é precária. Credibilidade se constrói em capítulos, mas se perde em parágrafos. Honra é aquilo que ninguém dá e ninguém toma.

Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca. Escreve aqui às segundas-feiras.

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