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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

MENSALÃO O Watergate brasileiro



(*) Raymond Moss

Como um estudioso das políticas dos Estados Unidos e do Brasil, assim como na minha condição de agente literário aqui e lá, venho acompanhando o noticiário brasileiro impressionado com os paralelos entre os escândalos de Watergate e Mensalão. É irônico que Watergate tenha estourado exatamente 40 anos atrás, em setembro de 1972. 
Como o Mensalão, Watergate envolvia o uso de um caixa 2 de campanha _ fundos levantados com doares particulares para a reeleição de Richard Nixon. Mas parte do dinheiro foi usada em um esquema de espionagem dos adversários democratas, orquestrado a partir dos escalões mais altos do governo e pelo próprio presidente Nixon. Uma vez descoberto o esquema, mais dinheiro de caixa 2 foi usado para acobertar os responsáveis _ basicamente tentando calar a boca dos assaltantes da sede do comitê democrata. 
Ao final, a medida que cabeças começaram a rolar e que a trilha do dinheiro foi descoberta, os acusados viram que seriam implicados e condenados e passaram então a denunciar os chefões da conspiração. Um deles disse à promotoria que havia sido pago para mentir e apontou o dedo contra o conselheiro presidencial John Dean e o ex-procurador geral da República, John Mitchell, naquele momento atuando como chefe da campanha de Nixon. A partir daí, outros passaram a colaborar com a acusação, e o próprio Dean acabou no papel de testemunha-chave contra o presidente. 
Richard Nixon renunciou à presidência em agosto de 1974 diante da grande possibilidade de um impeachment por parte do Congresso, além de um processo criminal. No total, 69 altos funcionários do governo foram acusados criminalmente, e 48 considerados culpados. 
Não é muito difícil imaginar o julgamento do Mensalão tendo um desenvolvimento semelhante. Talvez isso já esteja até acontecendo, com a grande diferença, é claro, de o Mensalão se referir a um governo já encerrado, enquanto Watergate envolvia diretamente o governo em vigor. 
Para terminar, uma última comparação que vale mencionar é o perdão de Gerald Ford a Nixon pelos crimes de Watergate, assim que o vice assumiu presidência. Melhor do que eu, os leitores deste blog conhecem a Constituição brasileira e sabem que na seção 2 artigo 84 o presidente do Brasil tem o poder de perdoar crimes e reduzir sentenças condenatórias. 

(*)  Raymond Moss é advogado nos Estados Unidos e agente literário
Tradução: Luciana Villas - Boas

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