Ricardo Noblat -
14.12.2012
| 21h08m
Alguém que entra armado numa escola, metido em um casaco à prova de balas, de posse de quatro armas de fogo, dispara mais de 100 vezes, mata cerca de 30 pessoas, entre elas de 18 a 20 crianças, e depois se mata, só pode ser doente.
Com toda a certeza é doente. Um doente tão grave que antes de sair de casa matou o pai, e que na escola foi direto à sala onde a mãe dava aula e a matou. Em seguida atirou nos 18 alunos dela.
Gente doente assim existe por toda parte, infelizmente. Embora apenas nos Estados Unidos esse tipo de tragédia costume se repetir com uma regularidade espantosa.
![](http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2012/12/129_1413-alt-chacina%20-%201.jpg)
Foto: Reuters
Desde a chacina de Columbine, em 1999, onde 12 crianças e um professor foram mortos, ocorreram 18 episódios semelhantes nos Estados Unidos, quatro a mais que em todo o resto do mundo, segundo o jornal espanhol El País.
O que explica tantas mortes absurdas é a combinação perversa de uma série de razões - algumas delas históricas. Os americanos são individualistas por excelência. Ocuparam espaços ermos quando colonizaram o atual território onde vivem.
Como não contavam com proteção, nem acreditavam que governos incipientes fossem capazes de protegê-los, se armaram. E nunca mais se desarmaram.
O direito a ter uma arma virou até artigo da Constituição. Alastrou-se a cultura da violência, presente em todas as formas de manifestação. Nenhum país do mundo foi mais à guerra nos últimos 200 anos do que os Estados Unidos.
Arma e voto ali são parentes próximos. A indústria das armas é uma das maiores doadoras de dinheiro para campanhas eleitorais. Financia igualmente os partidos Republicano e Democrata.
Candidatos a a cargos eletivos não ousam enfrentá-la. Ou se beneficiam dela ou se calam. Somente este ano, 16.800.000 armas form vendidas, segundo o organismo que controla tal tipo de comércio. Não há controle sobre cerca de 40% das armas comercializadas.
Entre 2006 e 2011, a venda de escopetas cresceu cerca de 30%. No ano passado, de 14 mil assassinatos cometidos nos Estados Unidos, 10.000 o foram por armas de fogo. Em 2009, armas de fogo mataram por acidente 600 pessoas. Delas se valeram naquele ano 19 mil suicidas.
A ocorrência de tragédias como a de hoje em Connecticut não tem contribuído minimamente para endurecer as regras que orientam a venda de armas nos Estados Unidos. Pelo contrario. As regras têm amolecido. Há Estados onde ja é permitida a exibição de armas em locais públicos. E dentro de carros.
A ocorrência de tragédias como a de hoje em Connecticut não tem contribuído minimamente para endurecer as regras que orientam a venda de armas nos Estados Unidos. Pelo contrario. As regras têm amolecido. Há Estados onde ja é permitida a exibição de armas em locais públicos. E dentro de carros.
Um Obama com a voz embargada falou há pouco na tv solidário com os pais que perderam seus filhos. É só o que ele parece disposto a fazer.
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